O "Não" prepara a criança para o futuro, para a vida em sociedade
Negar não significa necessariamente uma agressão ou opressão ao outro; o outro, aqui, se refere ao filho. Pelo contrário, pode demonstrar um atestado da capacidade das crianças em suportar a frustração, na sua força emocional, capacidade de transformar a falta em desejo, o que provoca o crescimento.
Parece óbvio que existam ocasiões em que devemos dizer "não", embora, de maneira contraditória, exista uma tendência social, errada a meu ver, que para ser simpáticos, atenciosos e solidários, devemos dizer "sim" sempre que possível. Essa crença está presente tanto na esfera pública quanto na intimidade familiar.
Dizer "não" é consequência necessária de dizer "sim"; ambos são decisivos e fundamentais. Freud continua nos ensinando que, no desenvolvimento da personalidade, a palavra "não", ouvida e falada pelas crianças, é a mola propulsora que funda a inserção do indivíduo na sociedade dentro dos limites de uma cidadania possível. Penso que não limitar os impulsos infantis que levam a tentar conseguir tudo priva as crianças de conquistar aptidões e recursos para o futuro.
É necessário esclarecer que tudo que estamos falando está presente desde os primeiros dias de vida dos filhos. Nessa época, ao tentarrmos ser pais perfeitos, que nunca frustram os filhos, podemos, às vezes, fazer decodificações rápidas e sem reflexão ante o primeiro murmúrio do bebê e dar respostas estereotipadas, como oferecer colo, alimento, etc., antes mesmo que eles tenham tempo de experimentar seu próprio sentimento.
Estamos, na realidade, sendo incapazes de dizer "não", seja à demanda desconhecida do bebê, seja à nossa interpretação dela. É um duro e gratificante desafio para os pais fomentar o envolvimento da criança no mundo, ao mesmo tempo em que ela é ensinada a se adequar às normas sociais. Permitindo que a criança faça sempre o que quiser, nos arriscamos a transformar um "escravo" aborrecido em um "tirano" aborrecido.
Para finalizar, quero transcrever uma frase do sensível escritor mexicano Octavio Paz:
"A liberdade não é uma filosofia e nem sequer uma idéia: é um movimento da consciência que nos leva, em certos momentos, a pronunciar dois monossílabos: sim ou não. Em sua brevidade instantânea, como a luz do relâmpago, desenha-se o signo contraditório da natureza humana".
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