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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Mata Atlântica


No Rio Grande do Sul – Dados da ONG SOS Mata Atlântica obtidos em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), indicam que existem 976.959 hectares de florestas da Mata Atlântica no Estado, o que corresponde a praticamente 905 mil campos de futebol. Isso representa pouco mais de 7% dos mais de 13 milhões de hectares que existiam originalmente. São partes da floresta ombrófila densa (floresta atlântica), floresta ombrófila mixta (floresta com araucárias), florestas estacionais decidual e semidecidual (que perdem as folhas no outono), matas de restinga (paludosas e sobre dunas). Além disso, a Mata Atlântica do Rio Grande do Sul é formada pelos campos de altitude e seus banhados, pelas demais vegetações de restinga e áreas úmidas associadas.

Texto: Joyce Wainberg e Alexandre Krob


27 de maio é uma data especial: é o Dia da Mata Atlântica, um dos oito biomas brasileiros, protegido pela Constituição Federal como patrimônio nacional (artigo 225, § 4º). Estendida em 91 mil quilômetros quadrados do país, ela abriga uma das mais altas taxas de diversidade biológica do mundo, com muitas espécies em extinção.

Apesar da devastação que vem sofrendo desde 1500, a grandiosidade da Mata Atlântica ainda impressiona: presente em 17 dos 26 estados brasileiros, do Rio Grande do Sul ao Piauí, ela apresenta diferentes relevos e paisagens e uma biodiversidade que chega a mais de 22 mil espécies de animais e de plantas. E o que mais chama a atenção é que muitas dessas espécies são endêmicas, ou seja, não são encontradas em nenhum outro lugar do planeta.


LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA REGIÃO

A mata atlântica originalmente percorria o litoral brasileiro de ponta a ponta. Estendia-se do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, e ocupava uma área de 1,3 milhão de quilômetros quadrados. Tratava-se da segunda maior floresta tropical úmida do Brasil, só comparável à Floresta Amazônica.

O grande destaque da mata original era o pau-brasil, que deu origem ao nome do nosso país. Alguns exemplares eram tão grossos que três homens não conseguiam abraçar seus troncos. O pau-brasil hoje é quase uma relíquia, existindo apenas alguns exemplares no Sul da Bahia.

Atualmente da segunda maior floresta brasileira restam apenas cerca de 5 % de sua extensão original. Em alguns lugares como no Rio Grande do Norte, nem vestígios. Hoje a maioria da área litorânea que era coberta pela Mata Atlântica é ocupada por grandes cidades, pastos e agricultura. Porém, ainda restam manchas da floresta na Serra do Mar e na Serra da Mantiqueira, no sudeste do Brasil.

O aparecimento da Serra-do-Mar e da Mantiqueira datam da separação entre o continente Americano e Africano. No princípio eram altas montanhas e só com os milhões de anos de erosão conseguiram suavizar essas rochas de formação antiga que sustentam o continente sul-americano. Concomitantemente evoluíram as linhagens de plantas que originaram a Mata Atlântica. Nesta época também se desenvolveram insetos, aves e mamíferos fazendo com que hoje fauna e flora se combinem rica e complexamente. 

Área total original: aproximadamente 1,3 milhão de km2.

Área total atual: aproximadamente 52.000 Km2. 

domingo, 19 de junho de 2011

Vamos Salvar a Terra


Especial Ecologia Super Interessante

No mundo existem dois grandes tipos de fenômenos: os concretos e os abstratos. Entende-se por concreto tudo aquilo que tem massa e volume, e que ocupa lugar no espaço. Portanto é tudo o que pode ser pesado e medido, e que pode ser percebido pelos órgãos dos sentidos. Pode, portanto, ser visto, tocado, cheirado, etc.

Fenômenos abstratos são igualmente reais, porém não podem ser vistos nem tocados. Sua percepção não depende dos sentidos, mas do intelecto ou das emoções. Olhe para seu pulso. Você tem um relógio? Ele é concreto. Mas o que ele faz? Ajuda você a perceber um fenômeno totalmente abstrato, e de uma importância cada vez maior em nossa vida: o tempo.

Provavelmente a maior dificuldade que temos, ao nos relacionarmos com o planeta Terra, é uma monumental diferença de idade. O famoso conflito de gerações, levado ao extremo. O mundo é velho demais, e nós, de qualquer geração, jovens demais para entende-lo. Nossa vida é medida em anos ou, no máximo, em décadas. O descobrimento do Brasil tem cinco séculos. O cristianismo dois mil anos. Os pensadores gregos um pouco mais que isso. E toda a história conhecida não passa de 5.000 anos, graças ao surgimento da escrita, no caso, a simbologia cuneiforme inventada pelos sumérios, lá na velha (velha?) Mesopotâmia.

E o que tudo isso representa para a Terra, se considerarmos sua idade? Absolutamente nada. Somos meros adolescentes em festinha de final de semana. As principais evidências, através da estratificação geológica e da marcação radioativa são de que nosso planeta tenha alguma coisa perto de 4,6 bilhões de anos. Nossa galáxia, a Via Láctea teria surgido da Grande Explosão, o famoso Big Bang, há 15 bilhões de anos, e os protoplanetas do sistema solar começaram a se formar há 5 bilhões de anos, através da condensação do material da monumental nebulosa formada em torno do sol.

A atração gravitacional das partículas que formaram a Terra acabou por criar uma massa extremamente quente. Quando acabou o estoque de pó estelar, o planeta parou de crescer e começou a esfriar. Já esfriou o suficiente para permitir a vida, mas só na superfície, a chamada crosta, que tem no máximo 50 km de espessura. Abaixo dela está o manto, que ainda é rocha quente, comprimida, e que tem mais de 3.000 km de espessura, antes do núcleo, que tem também os seus 3.000 km. O interior do manto pode atingir temperaturas superiores a 4.000 graus centígrados. De todas as aventuras imaginadas por Júlio Verne, como a chegada do homem à lua e ao fundo do mar, entre outras, a única que seria impossível, é justamente a viagem ao centro da terra.

Vivemos, portanto, em uma casquinha de maçã, a crosta terrestre, que começou a resfriar há cerca de 3 bilhões de anos, o que permitiu a formação dos primeiros mares primitivos, que rapidamente se transformaram em uma sopa de material orgânico, capaz de originar as primeiras formas de vida, provavelmente procariontes, como bactérias e algas azuis.

A seqüência de acontecimentos a partir de então, formam a maravilhosa trama da evolução, que ainda intriga cientistas do mundo inteiro. Como uma espécie evolui é entendida com segurança, através do que foi explicado por Darwin, a seleção natural, que privilegia os mais adaptados, em detrimento daqueles considerados inaptos às variações do meio ambiente. Mas e o salto de uma espécie para formar outra? Quem explica? Que bom que ainda temos tanto para pesquisar, aprender e explicar. Cientistas têm emprego para sempre!

A maior parte da história natural foi dominada por seres inferiores, os invertebrados. Animais com coluna vertebral começaram a aparecer apenas no período Siluriano, há cerca de 400 milhões de anos, através dos primeiros peixes. No Carbonífero, há 300 milhões de anos, os anfíbios iniciaram sua aventura terrestre. Deles vieram os répteis. Há cerca de 150 milhões, no Jurássico, viveram os famosos dinossauros que, para os padrões do tempo do planeta, não ficaram por aqui muito tempo.

Os primatas começaram a aparecer a 50 milhões de anos, e o primeiro hominídeo há 5 milhões. O Australopitecus tem cerca de 2 milhões, o Homo erectus um milhão, o homem de Neandertal 250.000, e finalmente o Homo sapiens sapiens, nossa espécie, não mais que 40.000 anos.

Imagine agora que a idade da Terra seja de apenas um ano, e nós estamos exatamente à meia noite do dia 31 de dezembro, em pleno reveillon, passando para o ano dois. Se a vida tivesse começado no dia primeiro de janeiro, os vertebrados teriam surgido apenas no dia 15 de novembro, os dinossauros teriam vivido apenas durante a segunda semana de dezembro e os primeiros primatas surgiriam no dia 26 de dezembro.

O Australopitecus apareceria no dia 31 de dezembro, às 20:30h, e o nós homens atuais teríamos iniciado nossas andanças pelo planeta quando faltasse apenas cinco minutos para a meia noite. Acabamos de chegar… Usando a mesma analogia, tomando-se como base um dia, e não um ano, nós surgiríamos no ultimo segundo (exatos 0,864 segundos). Incrível, não?

Nossa idade na Terra, comparada com a verdadeira História Natural chega a ser humilhante, tão recentes somos. No entanto isso nos leva a outra reflexão. Como então, se somos tão insignificantes, conseguimos dominar as outras espécies, e reinar absolutos sobre o planeta, ditando as leis de vida e de morte sobre a biosfera? A explicação é um capricho da Natureza: nossa incrível capacidade cerebral. Enquanto o Australopitecus tinha um crânio de cerca de 700 cm3, o Homo erectus de 1.000 cm3, o nosso pode chegar a um volume cefálico de 2.000 cm3. Maior continente permitiu maior, e mais sofisticado conteúdo. Um cérebro pensante, capaz de compreender os mistérios da Natureza, de criar comunicação sofisticada, de escrever música e poesia, e de inventar e reinventar tecnologia.

O cérebro humano é, sem dúvida, o maior dos privilégios da Natureza. Foi com ele que inventamos a escrita e registramos a história. Escrevemos romances, interpretando a comédia humana. Rabiscamos poemas, dando voz ao espírito. Interpretamos as mensagens da Natureza, e criamos as ciências. Rescrevemos as leis naturais, e as transformamos em tecnologia. Construímos conforto, velocidade, transmissão da imagem e do som à distância, desprezando totalmente o tempo. A inteligência nos diferencia dos animais e, de acordo a megalomania que faz parte dela, nos aproxima dos deuses.

Somos deuses quando viajamos à velocidade do som, quando vamos ao espaço, quando visitamos o fundo do mar, quando manipulamos as entranhas do próprio homem através de lentes. Somos deuses quando mapeamos o código que nos escreve, quando reprisamos um mamífero através de uma célula isolada de um outro. Quando fazemos cirurgias, trocamos órgãos, combatemos microorganismos, prolongamos a vida.
 Perfeito. Mas que tipos de deuses somos, quando inventamos a fissão nuclear e criamos a bomba atômica? E quando derrubamos florestas para dar lugar a pastagens em lugares onde pasto não cresce? Quando destruímos, conscientemente, a camada de ozônio que protege a Terra das radiações perniciosas, e quando alteramos, em anos, cadeias alimentares criadas a milênios, sem um pingo de remorso?

Estamos diante do grande paradoxo do cérebro humano. Maravilha das maravilhas. Mas com defeitos de fabricação. Por exemplo, não lida bem com o tempo. Considera-se eterno. Não percebe a conseqüência de seus atos predatórios para as gerações que estão vindo e continuarão a vir.

Vivemos porque nosso corpo vive. E ele é constituido por mais de 70 por cento de água. Assim como a água-viva, que ás vezes nos queima na praia, e que tem 98% de água e só 2% de matéria orgânica, sendo portanto uma água, viva, nós somos profundamente dependentes da água do planeta. E da água doce, que corresponde a apenas 2,5% do total da água da Terra. E desse volume, a maior parte está retida no gelo da Antártida, na calota polar norte, na Groenlândia e nas geleiras das montanhas.

É quase inacreditável, mas apenas 0,01% da água do planeta está disponível para uso humano, em forma de rios, lagos, e também nas precipitações pluviais. Ainda é bastante água, porém três questões importantes devem ser consideradas. Primeiro sua disposição, que é extremamente irregular no planeta – cerca de 1,5 bilhão de pessoas não têm acesso regular à água , segundo, a redistribuição das chuvas, provocada pelos desmatamentos e outras agressões do homem, e terceiro, e patético, a desproporção entre a capacidade poluidora e o controle da poluição exercida pelas autoridades responsáveis e pela consciência da população.

E a Natureza teima em se impor. Nas margens do rio Tietê, uma espécie de monumento à imbecilidade humana, vivem maravilhosas garças brancas, que sobrevoam o lixo e a espuma sobrenadantes, como testemunhas de acusação de uma crime de lesa lógica, sem perdão, sem absolvição, sem apelação.

“Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível vende-los? Essa idéia me parece estranha”, disse o chefe Seattle quando, em 1854, o presidente americano fez uma proposta de compra de seu território. “Somos parte da terra e ela é parte de nós. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro e o homem – todos pertencem à mesma família”, continuou, demonstrando um conhecimento antecipado dos ciclos da matéria. “Tudo o que acontecer à terra acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos. Isso sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra…”.

A carta do velho índio transformou-se no mais pungente documento de consciência ecológica jamais escrito. Impressiona pela lucidez, especialmente por ter sido escrito em meados do século 19, quando a palavra ecologia nem havia sido inventada. “… o homem e a terra são da mesma matéria…” Acerto científico. Nosso corpo é 23 por cento carbono. Donde ele vem? Do ar, de onde é capturado pelos vegetais, que o repassam para nós, que o devolvemos pela respiração. Um átomo de carbono de uma célula de meu cérebro pode ter pertencido, há milhões de anos, ao epitélio da cauda de um dinossauro. É o mesmo, que não se perde, não se cria, só se recicla.

Os elementos químicos, os compostos, como a água, e até a energia necessária para que a vida se processe, pertencem a ciclos. Se o ciclo for interrompido em algum lugar, inviabiliza a continuidade do ciclo e a própria vida. O Nitrogênio, principal componente do ar que respiramos, só chega até nós porque bactérias do solo são capazes de captura-lo, e depois entrega-lo aos alguns vegetais – principalmente as leguminosas, como o feijão e a soja – que com ele sintetizam proteínas, que nós comemos. Ou comemos a carne de algum animal que as comeu. Quando queimamos o solo, matamos as bactérias que absorvem o Nitrogênio, interrompendo o ciclo. E aí vamos ter que fazer correções…

A transferência da energia é ainda mais fascinante. Qualquer plantinha, da alga microscópica do mar, ao imponente pinheiro dos planaltos do sul, todos os vegetais são capazes de uma mágica. Reagem duas substâncias abundantes, a água e o dióxido de carbono. O Carbono separa-se do Oxigênio e liga-se à água, dando origem a uma molécula orgânica chamada carbohidrato, e a uma molécula de oxigênio livre, que é devolvido para a atmosfera, possibilitando nossa respiração. Resumidamente:

H2O + CO2 à CH2O + O2

Essa reação, que qualquer escolar conhece, chama-se Fotossíntese. Foto, porque só pode acontecer na presença da luz, especialmente a solar. Síntese, porque termina por sintetizar (produzir) algum material orgânico, no caso, uma molécula de carbohidrato (CH2O – carbono mais água). E é aí que reside a mágica – ou milagre. Nessa simples molécula o vegetal tem a capacidade de armazenar a luz, que veio do sol, em forma de energia química. Quando nós comemos a planta, ou comemos a carne do animal que a comeu, estamos recebendo essa molécula energética. Fazemos, então, a reação contrária. Reagimos o carbohidrato com o oxigênio (por isso respiramos), reconstituindo a água, que sairá pela urina, e o gás carbônico, que sairá pela respiração e liberando, finalmente, aquele energia armazenada.

Em síntese, se nós vivemos, estamos gastando energia. Qualquer ato fisiológico em meu corpo depende de energia. Se eu estou escrevendo, pensando, batendo o coração, estou gastando energia. Se você está lendo, respirando, mantendo a temperatura do corpo em 36 graus Centígrados, está consumindo energia. E de onde vem essa energia toda? Só de um lugar: do sol! Através do, ao mesmo tempo, complexo e simples, binômio fotossintese-respiração celular. Para algumas pessoas, é mais fácil ver Deus nessas reações da Natureza, do que nas grandes catedrais da alta Idade Média, erigidas para dar ao homem um sentimento de inferioridade, e torna-lo manipulável pelo clero e pela nobreza.

Inferiores somos, sim, perante o poder da Natureza, que teima em se auto-administrar, em detrimento da ação predatória do homem. Cada vez mais, a verdadeira força está se mostrando. A Sociologia, a Antropologia, a Economia, a Psicologia, aprendem com a Biologia. A História Natural é o que há de mais natural na história do ser humano.

Quando lemos os grandes clássicos, ou a filosofia dos gregos, ou os livros religiosos, ou os tratados de psicologia, ou a poesia contemporânea, encontramos, como pano de fundo, sempre o mesmo dilema: a busca da felicidade pelo homem, e a sua total incompetência para encontra-la. Hoje temos o auxilio da ciência, para nos ajudar a entender melhor a natureza humana, suas ambições e suas ansiedades. Quem sabe, a simples observação do que é natural, ou normal, ao nosso redor, não nos ajuda a nos compreendermos melhor? A paciência dos ciclos naturais. O tempo certo para cada reação química, para cada folha cair, para cada flor nascer, para cada broto surgir, para cada árvore morrer.

Observe-se, você é parte viva da Natureza.

Texto publicado sob licença da revista Superinteressante, Editora Abril.
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