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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Paulo Coelho ganha o Nobel de literatura

Texto escrito por Urariano Mota em Direto da Redação
No momento em que escrevo a coluna, o título acima ainda não virou manchete. Mas neste ou num próximo ano, sem dúvida, Paulo Coelho vai ganhar o Nobel de Literatura. E nisso não vai qualquer bruxaria. É apenas uma ordem das leis do mercado e da fama, reinos da terra onde o alquimista é soberano.
Do meu canto, precavido ou avisado, há quatro anos escrevi uma entrevista do Guerreiro da Luz. Recupero aqui alguns momentos, dos primeiros contatos de Paulo Coelho com a imprensa, assim que soube do seu prêmio Nobel.
A notícia correu o mundo desde a manhã. The Guardian, The Times anunciaram em primeira mão: o escritor Paulo Coelho, um dos mais importantes autores de língua inglesa do século, é o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. E mais: “a Academia sueca, que decide quem vai receber o prestigioso prêmio de US$ 1,5 milhão, fez o anúncio descrevendo Mr. Coelho como um ‘autor de épicos sobre a experiência mística, que, com fervor e poder visionário, expôs uma civilização dividida entre o ser e o pós-ser’ ”. Os brasileiros, ainda mal inseridos no mundo globalizado, bem que tentam repor o Nobel em seu lugar de origem.
O Globo, após alguns salamaleques de ofício à civilização inglesa, ousa insinuar que Paulo Coelho é brasileiro, da cidade do Rio de Janeiro, com residência física em Copacabana. Mas que, a julgar pela qualidade das traduções dos seus livros para o “idioma de Shakespeare”, é compreensível que divida as honras com o antigo império. A Folha de São Paulo, em sua natural objetividade, exclama que o autor Paulo Coelho é tão bom, que mais deveria ser dito que ele está em um patamar além-Brasil. Mas um pouco antes do prêmio, os seus críticos literários haviam escrito que para o Senhor Paulo Coelho, em lugar de um patamar, o mais próprio seria um patíbulo. Agora tudo é diferente: “Os seus livros trazem um resumo da filosofia de vida de Coelho e são baseadas nas histórias e fatos de diferentes culturas e partes do mundo.”
O fato, descobrem. Paulo Coelho é o autor brasileiro – natural do Brasil – mais lido em todo o mundo. O Alquimista é um dos mais importantes fenômenos impressos dos séculos XX e XXI. Por isso os chefes de redação se põem à caça do Nobel japonês Kenzaburo Oe, para arrancar dele frases de sagração, como antes ele dissera: “Paulo Coelho conhece o segredo da alquimia literária”. Os textos de vitória da seleção brasileira vêm nas páginas com destaques do gênero “Paulo Coelho é um dos cinco autores mais vendidos do mundo. Mas em vez de oferecer aos leitores relatos aliciantes de violência, sexo ou suspense, Coelho escreve acerca de pessoas normais que se colocam em situações extraordinárias com a finalidade de incentivarem o seu eu interior, e fá-lo com uma prosa simples e despretensiosa.” Ora, que tesouro tínhamos e não sabíamos.
Por isso agora os repórteres cercam o mago, que mal teve tempo de pôr de lado o seu grandioso arco. Eles vêm em horda, simpáticos, cordiais, íntimos, íntimos como só os repórteres conseguem ser.
- É verdade que escreveu O Alquimista em quinze dias?
- Sim. Todos os meus livros são escritos num período de duas a quatro semanas.
- O que faz um Nobel de literatura?
- Escreve.
- E que mais?
- Bebe, come… e transforma o que come em coisas mais naturais.
- O senhor é um demônio? (Outras vozes) O senhor é alquimista? O senhor é autobiográfico?
- Acredito no conceito de “Anima Mundi”…
- Sei, entendo… Vários de seus livros são narrados do ponto de vista feminino. Como um homem consegue retratar tão
fielmente as mulheres?
- Quando escrevo um livro estou sobretudo tentando resolver algo comigo mesmo.
- O senhor é gay? O senhor teve experiência gay? Quais são seus autores preferidos
- J.L Borges, William Blake, Jorge Amado, Henry Miller.
- Só?
- Que livros a senhora já leu de Paulo Coelho?
- Muitos. O Alqumista. O Bruxo….
- Entendo. Do quê a senhora gostou mais no livro O Bruxo?
- Ah, tudo, não é?
- Maravilha.
- O senhor sabia que o publicitário Olivetto declarou que o senhor é a nossa Coca-Cola?
- Lindo. E qual o slogan, eu poderia saber?
- Paulo Coelho é que é.
O escritor, como um guerreiro da luz, então pega o arco e a flecha. Os repórteres, ainda que não tenham lido a Odisséia, e por isso não lembrem da volta de Odisseu ao palácio, os repórteres ainda assim abandonam o campo, rápido. Não há cultura mais urgente que a autopreservação. A prudência é que é.

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