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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Brasileiro não gosta de ler brasileiro

maisvendidos [Papo Cabeça] Brasileiro não gosta de ler brasileiro

Brasileiro não gosta de ler escritor brasileiro. Basta conferir nas listas “dos mais vendidos” que saem nos cadernos culturais e nas revistas semanais. Pegue as listas da Veja, por exemplo. Se for obra de ficção o cara só vai encontrar “best-seller” de escritor estrangeiro, norte-americano de preferência. Na  da Veja desta semana dos dez livros de ficção mais vendidos, 8 são de autores norte-americanos, 1 canadense e 1 (viva!) brasileiro. Só que o patrício, de nome Augusto Cury, psiquiatra, joga mais no time de escritores tipo autoajuda e não entendi como chegou à categoria de ficção.

A campeoníssima é a escritora Stephanie Meyer, dos Estados Unidos. Está no placar com quatro livros, sendo que um deles, “Crepúsculo”, tem lugar cativo na lista há 85 semanas. Outra norte-americana, L.S. Smith, comparece com dois livros. Os outros gringos são Dan Brown e Rick Riordan, americanos, e William Young, canadense, que fala muito do amor de Deus em sua literatura. Europa toda de fora; escritor latino-americano nem pensar. Africano faz muito tempo que não é citado e olhe, cara, que tem muita gente boa, alguns com o Nobel brilhando no peito, isso sem falar em Mia Couto, Pepetela, Manoel Lopes, José Craverinha, Helder Macedo, José Eduardo Agualusa, Ondjaki, Agostinho Neto, Gonçalo M. Tavares, africanos que falam e escrevem em língua portuguesa.

Entre os  leitores natalenses, claro, acontece o mesmo “fenômeno”. Confiro na lista da Siciliano, que sai colada à coluna de Carlos Souza, “Toque – Livros & Cultura”, todas as quartas-feiras nesta brava Tribuna do Norte, às vésperas (será em março) de comemorar 60 anos. Um detalhe: no placar dos livros de ficção mais vendidos na Siciliano de Natal não há nenhum autor brasileiro. Só a danada da americana Stephanie Meyer ocupa a metade da lista dos “10 mais”.

Se for livro de Poesia, aí, então, é uma verdadeira catástrofe. Em lista nenhuma encontra-se um livro de poema, um só. Nem de poeta de além mar, nem de nativo das praias de cá. Nem um Fernando Pessoa, nem um Carlos Drummond de Andrade. Nem na Veja nem na Siciliano. Bom, na lista da Siciliano, abre-se,  aqui e acolá uma exceção, mormente dias após o lançamento para livro de poeta desta aldeia de Poti mais esquecida. Olhe lá.

Nem os premiados

Nem entre os autores brasileiros premiados, em cujos céus flutua a nata de nossa literatura, são encontrados nas listas dos “10 mais lidos”. Brasileiro também não gosta de ler escritor premiado. Estou aqui com a relação dos premiados nos três mais importantes prêmios literários do país, ano passado, e não vejo nenhum deles em lista nenhuma. Os prêmios são o Jabuti – o mais antigo dos três -, o Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa e o Prêmio São Paulo de Literatura, este pagando uma nota de 200 mil reais ao vencedor.

Jabuti de 2009, categoria Romance, foi para o escritor gaúcho Moacyr Scliar, com Manual da Paixão Solitária. O segundo lugar ficou com o amazonense Milton Hatoum, Órfãos do Eldorado. Na categoria Poesia, venceu Alice Ruiz S. com Dois em um. Ela é paranaense e tem mais de vinte livros publicados. Os três estão ausentes.

O vencedor do Prêmio Telecom foi o escritor e artista plástico paulista Nuno Ramos, com o romance Ó, que eu não vi ainda em nenhuma lista. Nem daqui e nem de fora. O cara enfrentou feras, entre eles um verdadeiro escrete de escritores portugueses começando por José Saramago (A viagem do elefante), António Lobo Antunes (Ontem não te vi em Babilônia), Inês Pedrosa (A eternidade e o desejo), Gonçalo M. Tavares (Aprender a rezar na era da técnica) e Miguel de Souza Tavares (Rio das Flores).

O romance de Nuno Ramos foi um dos livros que mais me encantou em minhas leituras do ano passado. O poeta Alex Nascimento, que o leu numa noitada só, anda dizendo loas para o livro. Também não está na lista da Siciliano, mas foi lá onde eu peguei.

ronaldobe [Papo Cabeça] Brasileiro não gosta de ler brasileiro

Nem Galiléia

O prêmio literário brasileiro de maior valor em dinheiro, o São Paulo de Literatura de 2009,  coube a um escritor nordestino: Ronaldo Correia de Brito. Excelente contista, estreava no romance com Galiléia, escolhido como o “Livro do Ano de 2008”. Não me lembro de ter visto Galiléia nas listas dos 10 livros mais vendidos no Recife, onde vive o escritor, nem na lista dos jornais do Ceará, onde ele nasceu. Na revista Veja, nem pensar. Mas ler Ronaldo Correia de Brito, que andou por aqui ano passado na Festa Literária de Pipa, é uma delícia. Conversar com ele, também.

O gancho que me levou a essas notas partiu de uma leitura de revistas e jornais que o Marechal Porpa (Luiz Antônio Porpino) me trouxe de Portugal, por onde andou recentemente depois de escorregar nas neves da Alemanha e Holanda. Conferi em “NS”, revista semanal que sai na edição de sábado do Diário de Notícias, de Lisboa, as novidades literárias de Portugal. Fui à lista dos “mais vendidos”. Ficção. Lá são cinco.  Quatro são portugueses e um norte-americano. O gringo é o Dan Brown, que aparece nas listas brasileiras (Veja). É o mesmo autor de “O Código da Vinci” e que agora reina nos best-selers com “Símbolo Perdido”. Lá e cá.

Os portugueses são: José Rodrigues dos Santos (Fúria Divina), nascido em Moçambique e que também integra o time dos mais importantes jornalistas de Portugal, Margarida Rebelo Pinto (O dia em que te esquecerei), José Saramago (Caim) e Ricardo Araújo Pereira (Novas Crônicas da Boca do Inferno). A revista do DN, edição de 2 a 8 de janeiro, abre ainda espaços para Garcia Lorca e Albert Camus

O número de 26 de dezembro de 2009 a 1 de janeiro traz textos de Inês Pedrosa, Gonçalo M. Tavares, Irene Pimentel, José Luís Peixoto, José Tolentino Mendonça, Lídia Jorge, Margarida Rebelo Pinto, Nuno Júdice, Rita Ferro e Vasco Graça Moura sobre fotos de alguns dos principais fatos ocorridos no mundo. Faz resenhas também dos últimos livros de Saramago (Caim) e Antônio Lobo Antunes (Que cavalos são aqueles que fazem sobra no mar), apontando-o como “candidato ao melhor romance do ano”.

Fernando Pessoa

Na secção de Livros do Jornal de Negócios tem o registro do lançamento do livro de Fernando Pessoa. Livro de Viagem, afirmando que é “sempre agradável viajar à boleia de seus poemas”. Tem uns versos que eu destaco: O comboio abranda, é o Cais de Sodré. / Cheguei a Lisboa, mas não a uma conclusão.


Fonte: Tribuna do Norte, de Natal

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