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domingo, 12 de fevereiro de 2012

As novas bibliotecas circulantes

Histórias e sonhos de gente que inventou jeitos inusitados de levar livros para os lugares e leitores mais improváveis.

Quando era morador de rua, Robson César Correia de Mendonça, 61 anos, topou com o livro “A Revolução dos Bichos” na biblioteca de um albergue. Foi uma revolução na vida dele. A leitura levou à criação da Bicicloteca, biblioteca sobre duas rodas que circula na região central da cidade de São Paulo. “O projeto surgiu da minha necessidade de leitura. Eu não podia retirar livros das bibliotecas por não ter comprovante de residência”, diz Robson, que é presidente do Movimento Estadual da População de Rua do Estado de São Paulo.

Robson César Correia de Mendonça, 61 anos, é o idealizador da Bicicloteca.
Foto: Edu Cesar/Foto arena
Robson César Correi de Mendonça, 61 anos, é o idealizador da Bicicloteca

Com a ideia da Bicicloteca na cabeça, Robson procurou patrocinadores. O apoio veio do Instituto Mobilidade Verde. “Nosso foco é o morador de rua, mas o público é grande, inclui estudantes, advogados”, diz Lincoln Paiva, do instituto. Mesmo liberando os livros sem burocracia, o índice de retorno é de 90%, mais do que o de muitas bibliotecas.

Com o sucesso do projeto, Robson agora cuida de duas biciclotecas, uma com capacidade para 200 e outra 300 livros, somando cerca de 150 empréstimos diários. Uma delas terá placas solares para captação de energia, internet wi-fi e cursos de alfabetização digital.

Os gêneros de mais saída são romances, seguidos por livros de Direito, Religião e Psicologia.

“Livro é uma maneira de viajar, excita a mente. Com a Bicicloteca, moradores de rua começam a ler, e muitos deixam de beber, procuram trabalho, até saem da rua”, afirma Robson.
Mas não é só a força do pedal que leva livros a mais pessoas. Lincoln Paiva lançou também o Bibliotáxi, em maio desse ano. “Aproximamos o taxista da comunidade e, pelos livros, as pessoas podem voltar a compartilhar coisas e serem mais colaborativas”, diz Paiva.

O modelo é simples: no banco de trás do táxi, fica uma caixa com 15 livros à disposição do passageiro. “É uma forma de distribuir livros sem recurso nenhum, diferente de uma biblioteca.”

Integrar livros a espaços de trabalho também é um modelo fácil de replicar. Rafael Bernardes, dono da empresa de motefrete Translig, apostou numa biblioteca para dar mais formação e lazer aos funcionários.
“Motoboy que lê tem mais capacidade de entender um serviço, tem um português mais claro, tem interpretação de texto, sai do analfabetismo funcional. A mente começa a expandir, criar uma nova percepção de mundo”, afirma Bernardes.

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A Mototeca funciona desde a abertura da empresa, há 5 anos, e já tem cerca de mil exemplares. 

“É o primeiro passo para uma pessoa se interessar pela faculdade”, diz o empresário. A empresa também doa cerca de 300 livros por mês para seus clientes, nas coletas e entregas.
“Hoje leio uma média de um livro a cada dois meses. Pode parecer pouco, mas para quem não tinha o prazer da leitura é um progresso enorme”, diz o motoboy Marcos Weberton. O motoboy Marivaldo de Oliveira acabou descobrindo uma segunda profissão pelas leituras: a fotografia. “Encontrei na biblioteca livros de fotografia que me ajudam a melhorar minhas fotos”, afirma. 

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