No meu texto sobre Camelôs de Livros, comentei sobre o brasileiro estar lendo cada vez mais e, na ocasião, sugeri que nos valêssemos apenas da quantidade. Creio que agora possamos falar um pouco da qualidade.
Antes de tudo, qualidade é, via de regra, tratado como algo subjetivo e,
por isso, aberto a discussões, principalmente por depender exclusivamente dos
atributos que satisfaçam cada um de seus expectadores. Falando especificamente
da qualidade de livros, podemos elencar uma grande quantidade de perspectivas e
fatores que podem definir a qualidade de um livro: para uma editora, a
qualidade pode estar relacionada ao potencial de vendas que o livro pode ter;
para um literato, a qualidade pode estar relacionada à forma, à escrita, ao
conteúdo em si; para o escritor, a qualidade pode estar relacionada à
realização de um sonho; para o leitor, a qualidade pode estar relacionada ao
seu prazer de leitura, à posição do livro no mercado e, até, à influência que o
livro pode ter em conversas entre amigos.
Focando na nossa condição de leitor, sugiro que não consideremos a
qualidade de um livro em âmbito comunitário; mas sim para cada um de nós.
Consideremos a leitura em si e, aí sim, falemos da qualidade da leitura.
São muitos os leitores que saem aos ventos declarando a leitura deste ou
daquele autor, deste ou daquele título, que têm grande relevância no meio, seja
esta histórica ou por consideração de intelectuais. E estes muitos leitores que
insistem nisso, na maioria das vezes tiveram uma péssima leitura, um leitura
traduzida em uma penosa tarefa que tem como premiação o direito de declarar,
com certa arrogância: “Eu já li…”.
Bobagem! O livro em si não vale nada sem o leitor e menos ainda sem o
prazer que se estabelece entre os dois durante a leitura. Ler deve ser algo
prazeroso, algo que permita o desprendimento do leitor do mundo em que vive,
algo que permita a imaginação trabalhar liberta, algo que estabeleça um elo
sentimental entre o livro e o leitor (mesmo que apenas durante o período da
leitura), algo que faça com que o leitor tente se esquivar da última página
para evitar o rompimento.
É esta ausência que faz com que algumas pessoas digam que não gostam de
ler livros ou não servem para ler livros. Será que em algum momento, se leram,
conseguiram ler algo que lhes desse prazer? Eu mesmo já me dediquei a leituras
de autores de conteúdo pesado que me foram custosas e vazias, enquanto consegui
ter mais prazer e ensinamentos do que autores populares tidos como “fáceis”. É
neste caminho que definimos os autores e estilos de livros que nos agradam, é neste
caminho que podemos definir os nossos gostos de literários e garantir mais
leituras de qualidade. Hoje há autores que não me agradam, mas agradaram na
minha adolescência. Ficaram piores? Provavelmente não, mas meu gosto mudou!
Porque, antes de tudo, li e é necessário ler e encontrar nisso prazer.
Por isso que digo, definamos a qualidade da leitura. Encontremos na
leitura o prazer e assim definamos os autores e livros que nos dão prazer.
Orgulhemo-nos de ter tido uma leitura prazerosa e não do livro que foi lido.
Não tenhamos medo de interromper o martírio de uma leitura travada e chata para
nos lançarmos em busca de uma prazerosa e divertida. Busquemos! Que sejam
livros técnicos, exotéricos, religiosos, de autoajuda, romances centenários,
satíricos, eróticos, históricos, de poesias, premiados, qualquer um, não
importa; mas importa é a qualidade da leitura!
Irmãos, leiamos!
Fonte: Livros e Afins
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