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sábado, 12 de maio de 2012

Editoras investem mais em autobiografias e livro de memórias escrito por terceiros

Publicado originalmente por O Globo

Restrições na legislação deixaram empresas com medo das biografias não autorizadas


RIO – Roberto Carlos assustou muita gente. O recolhimento do livro sobre o cantor escrito pelo pesquisador Paulo César de Araújo, “Roberto Carlos em detalhes”, de 2006, levou as editoras a temerem investir em biografias não autorizadas. Ao mesmo tempo, obras que contam histórias de vida ou servem de exemplo são sucesso de venda. O resultado é a explosão de biografias autorizadas, livros de memórias e obras com dicas, pensamentos e reflexões. Com um diferencial: mesmo escritas em primeira pessoa, muitas delas tiveram uma mãozinha de terceiros. Ou duas. Seja por falta de tempo ou de domínio literário, quem deseja ter sua vida registrada recorre cada vez mais a jornalistas e escritores.

São muitos os exemplos de livros feitos em parceria: há pouco, foram lançados os do empresário Eike Batista, do lutador Anderson Silva e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em preparação estão os do secretário de Segurança José Mariano Beltrame, do produtor de cinema Luiz Carlos Barreto, dos empresários Abilio Diniz, Luiz Calainho e Alexandre Accioly, do radialista Milton Neves e de Carolyne Ferreira, ex-apresentadora do “Zona Quente” do canal Sexy Hot.

A coautoria pode ser assinalada de diversas formas. Desde a omissão completa do escritor — caso do ghost writer — até a inclusão do nome na capa, de forma discreta. Entre os extremos, há o simples agradecimento ou a citação “em depoimento a” nas páginas internas. O negócio é tão promissor que surgiu até o selo Primeira Pessoa, editado por Hélio Sussekind. Ele faz parte da editora Sextante, de Marcos e Tomás Pereira. A ideia veio a partir da constatação de que havia um “vácuo”.

— Por causa das restrições na legislação brasileira, é um risco assumir o investimento numa biografia não autorizada. E vimos que havia gente interessante no Brasil em quantidade muito superior aos lançamentos de biografias — diz Sussekind. — Esse mercado está mais aquecido do que nunca no país.

Ele já lançou “O X da questão”, de Eike Batista, em depoimento ao jornalista Roberto D’Ávila, “Anderson Spider Silva”, em depoimento ao jornalista Eduardo Ohata, e “Toda maneira de amor vale a pena”, da jornalista Bety Orsini, a partir de depoimentos de homossexuais — fora as biografias tradicionais de José Alencar, da jornalista Eliane Cantanhêde, e da presidente Dilma Rousseff, do jornalista Ricardo Amaral. A próxima aposta é a de Beltrame, em depoimento ao jornalista Sérgio Garcia e a Amaral, para este semestre.

Anderson gostou da experiência.
— Hélio disse que queria me dar a chance de contar não só o que me tornei mas de onde vim e como foi minha caminhada. Foi uma oportunidade que jamais esquecerei — diz o lutador, explicando que o livro não reflete somente Anderson Silva, mas sim uma “identidade como a de muitos que lutam no seu dia a dia”.

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