Restrições
na legislação deixaram empresas com medo das biografias não autorizadas
RIO – Roberto Carlos assustou muita gente. O recolhimento do livro sobre o
cantor escrito pelo pesquisador Paulo César de Araújo, “Roberto Carlos em
detalhes”, de 2006, levou as editoras a temerem investir em biografias não
autorizadas. Ao mesmo tempo, obras que contam histórias de vida ou servem de
exemplo são sucesso de venda. O resultado é a explosão de biografias
autorizadas, livros de memórias e obras com dicas, pensamentos e reflexões. Com
um diferencial: mesmo escritas em primeira pessoa, muitas delas tiveram uma
mãozinha de terceiros. Ou duas. Seja por falta de tempo ou de domínio
literário, quem deseja ter sua vida registrada recorre cada vez mais a
jornalistas e escritores.
São muitos os exemplos de livros feitos em
parceria: há pouco, foram lançados os do empresário Eike Batista, do lutador
Anderson Silva e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em preparação
estão os do secretário de Segurança José Mariano Beltrame, do produtor de
cinema Luiz Carlos Barreto, dos empresários Abilio Diniz, Luiz Calainho e
Alexandre Accioly, do radialista Milton Neves e de Carolyne Ferreira,
ex-apresentadora do “Zona Quente” do canal Sexy Hot.
A coautoria pode ser assinalada de diversas
formas. Desde a omissão completa do escritor — caso do ghost writer — até a
inclusão do nome na capa, de forma discreta. Entre os extremos, há o simples
agradecimento ou a citação “em depoimento a” nas páginas internas. O negócio é
tão promissor que surgiu até o selo Primeira Pessoa, editado por Hélio
Sussekind. Ele faz parte da editora Sextante, de Marcos e Tomás Pereira. A
ideia veio a partir da constatação de que havia um “vácuo”.
— Por causa das restrições na legislação
brasileira, é um risco assumir o investimento numa biografia não autorizada. E
vimos que havia gente interessante no Brasil em quantidade muito superior aos
lançamentos de biografias — diz Sussekind. — Esse mercado está mais aquecido do
que nunca no país.
Ele já lançou “O X da questão”, de Eike
Batista, em depoimento ao jornalista Roberto D’Ávila, “Anderson Spider Silva”,
em depoimento ao jornalista Eduardo Ohata, e “Toda maneira de amor vale a
pena”, da jornalista Bety Orsini, a partir de depoimentos de homossexuais —
fora as biografias tradicionais de José Alencar, da jornalista Eliane
Cantanhêde, e da presidente Dilma Rousseff, do jornalista Ricardo Amaral. A
próxima aposta é a de Beltrame, em depoimento ao jornalista Sérgio Garcia e a
Amaral, para este semestre.
Anderson gostou da experiência.
— Hélio disse que queria me dar a chance de
contar não só o que me tornei mas de onde vim e como foi minha caminhada. Foi
uma oportunidade que jamais esquecerei — diz o lutador, explicando que o livro
não reflete somente Anderson Silva, mas sim uma “identidade como a de muitos
que lutam no seu dia a dia”.
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