Quantas
vezes você já ouviu que, para levar uma vida saudável, precisa de pelo menos oito
horas de sono ininterrupto? A ideia parece sensata, mas carece de base
científica. “A necessidade de sono varia conforme o indivíduo e pode estar
entre 12 horas para algumas crianças e seis horas para adultos mais velhos”,
aponta o professor de psicologia Leon Lack, da Universidade de Flinders
(Austrália).
Em artigo
recente publicado no site Medical Xpress, Lack destrinchou mitos envolvendo o
sono (além daquele das 8 horas diárias “mínimas”). Para começar, diz, o sono
normal não é um “longo e profundo vale de inconsciência”. “O período de sono é
formado por ciclos de 90 minutos”, explica. “Acordar entre estes ciclos é
normal e se torna mais comum conforme envelhecemos”.
A siesta
Se você
sente sono no início da tarde, não pense que é porque comeu demais: faz parte
do ritmo natural do nosso corpo. Por causa dos chamados ritmos circadianos, que
controlam nosso relógio biológico, produção hormonal, temperatura corporal e
funções digestivas ao longo do dia, é normal que nossa atenção diminua no
período pós-almoço.
Antes da
Primeira Revolução Industrial, quando o ritmo de trabalho passou a exigir que
os operários passassem oito horas seguidas em atividade, a “siesta” (aquele
cochilo no início da tarde) era um padrão de sono dominante, conta Lack. “Ainda
é comum em comunidades rurais ao redor do mundo, não apenas em culturas do
Mediterrâneo ou da América Latina”.
Sono bifásico
Outra
rotina, que pode soar meio estranha hoje em dia, também era comum antes da
Primeira Revolução Industrial. “Esse padrão consiste em um sono inicial de
aproximadamente 4h30 (três ciclos de sono de 90 minutos cada) seguido por duas
horas acordado e um segundo período de sono de 3h (outros dois ciclos)”,
explica.
Durante o
inverno, habitantes da Europa Setentrional (ao norte do continente) passariam 9
ou 10 horas na cama, seguidas por 2 ou 3 horas de vigília, que poderiam ser
contínuas ou divididas.
Sem medo de acordar
O mito do
sono ininterrupto, tão forte nos dias de hoje, pode gerar preocupação entre
pessoas que acordam no meio da noite e, assim, realmente causar insônia.
Na verdade,
destaca Lack, “humanos podem dormir em diferentes horários e demonstrar pouca
diferença em sua competência ao acordar”. Ele menciona pesquisas em que os
participantes passaram por rotinas diversas: 20 minutos de sono a cada hora; 1
hora de sono a cada 3; ou 10 horas de sono a cada 28. Quando se acostumaram, os
participantes não tiveram dificuldade em seguir essas estranhas rotinas.
“O sono de
melhor qualidade é obtido na fase baixa de nosso ciclo circadiano – quando a
temperatura do corpo e os índices metabólicos estão em seu nível mínimo”,
aponta o autor. Para a maior parte das pessoas, isso ocorre tarde da noite –
mas há casos e casos.
“Não há
dúvida de que o mito das 8 horas de sono sólido é uma imposição cultural
recente”. Portanto, se você acorda no meio da noite, nada de “perder o sono”. É
normal!
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