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domingo, 9 de setembro de 2012

Meu livro acabou. E agora?

Houve um tempo em que dependi muito de ônibus e metrô, fosse para o trabalho, fosse para o lazer ou para viagens ao interior. Nestes passivos ir e vir, a única coisa que nos resta, em um primeiro momento, é existir. E este inerte existir é o tipo de coisa me aborrece. Por isso, sempre mantive comigo um livro. 

Ler, para mim, passou, cada vez mais, estar associado a estes ir e vir passivos. O livro nestas ocasiões passou a ser um pré-requisito para sair de casa. Muitas foram as vezes que, já no portão, tive de voltar à casa ao me dar conta de não estar com nenhum livro em mãos. Muitas foram também as ocasiões em que saí de casa com mais de um livro na mochila, após estimar a quantidade de páginas em relação o tempo da viagem. Poucas e irritantes foram as vezes em que me peguei dentro de um ônibus sem um livro em mãos.


Com esta associação, praticamente parei de ler em casa. Como passava muito tempo do meu dia indo e vindo, lia bastante nos meus percursos e o tempo em casa eu dedicava a outras coisas. O hábito mudou. Por outro lado, os períodos em que precisava usar o carro, por exemplo, para trabalhar, praticamente não lia.

Mas o fato é que semana passada saí de cada para trabalhar de ônibus e metrô. Antes de sair, passei os olhos no meu livro e, apesar de estar no fim, tinha páginas suficientes para o ir e vir, sem ter que levar um livro reserva. Bom, entrei no ônibus e após algumas quadras o livro acabou! Simplesmente a história toda acabou! Não que eu tivesse estimado errado a quantidade de páginas, ou que o trânsito estivesse muito lento, menos ainda que eu tivesse lido rápido demais; mas muitas das páginas restantes eram de um indesejado posfácio do tradutor. Sim, o meu livro acabou, os personagens deixaram de existir, toda aquela atmosfera se foi sem eu me preparar [risos]! Eu não tinha mais nada em mãos a não ser aquele posfácio traidor que nem me dei por lê-lo. Estava ainda no caminho de ida para o trabalho e não tinha mais um livro para ler.

Confesso que isso chega a ser até angustiante, mas muito mais cômico. Eu parecia um viciado sem o objeto de desejo ao alcance das mãos, um estranho em um novo mundo de maneiras e atitudes desconhecidas: atrapalhado, confuso e deslocado de mim mesmo. Estava no ônibus e tinha as duas mãos livres. Não era mais preciso me enroscar pelas barras, nem tanto me equilibrar e menos ainda fazer malabares com meus objetos. O meu livro tinha acabado e não havia nada mais que eu pudesse fazer a não ser rir de mim mesmo.

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