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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Woody Allen faz a crônica da nova desordem amorosa

cena do filme

Os melhores filmes de Woody Allen não são necessariamente os mais engraçados, mas aqueles que conseguem conciliar humor e uma dose de amargura, como “Manhattan”, “Hannah e suas irmãs” ou “Crimes e contravenções”. “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” é mais um exemplo perfeito desse delicado equilíbrio: embora faça rir, e bastante, é um filme feito para adultos, um retrato bastante cético das relações afetivas no mundo em que vivemos hoje. Um retrato tão verdadeiro dessa nova ordem (ou desordem) amorosa que é difícil sair do cinema sem aquele tipo de desconforto provocado por situações assustadoramente familiares.

Basicamente a mensagem do filme é que, no terreno dos afetos, só existem duas alternativas: a ilusão e a frustração. Os personagens transitam entre esses dois pólos, em graus variados, às vezes de forma deliberada: um escritor mal-sucedido, sua esposa insatisfeita, a mãe dela, abandonada pelo marido, o pai, que se recusa a aceitar a velhice. Com algo de melancólico, a nublada Londres – onde o diretor também filmou o excelente “Match point” – é um cenário adequado para o sombrio jogo de interesses e a sucessão de discretos mal-entendidos que compõem a trama.

Helena (a ótima Gemma Jones) está desorientada após o divórcio inesperado na terceira idade. Ela procura consolo em uma vidente – na qual todos enxergam uma picareta, mas que acaba acertando em quase tudo que diz. Alfie (Anthony Hopkins) tenta enganar o tempo se matriculando numa academia, fazendo bronzeamento artificial e… se casando com uma garota de programa (Lucy Punch). Infeliz no casamento com Roy (Josh Brolin), o escritor fracassado e desempregado, Sally (Naomi Watts, numa interpretação cheia de nuances), se apaixona pelo chefe, o charmoso galerista Greg (Antonio Banderas), mas não é correspondida. Roy, por sua vez, se envolve com uma jovem vizinha, Dia (Freida Pinto), que está noiva, mas não tem certeza se quer mesmo se casar.

Nessa quadrilha, a narrativa de “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” tem algo de teatral, não somente pela concisão dos diálogos, pela forma de apresentação dos personagens e pelo encadeamento das cenas, mas também por lembrar os enredos daquelas peças de Tennessee Williams ou Arthur Miller em que a verdadeira ação acontece de maneira subliminar, sob o véu das aparências e normalidade que os protagonistas se esforçam em preservar. Evoca, ainda, um filme da fase bergmaniana de Woody Allen, “Interiores”, também sobre centrado em desencontros amorosos e nas falsas expectativas que criamos – e nas mentiras que abraçamos – para enfrentar a realidade.

Roy passa a tarde inteira olhando pela janela para Dia, e quando, por fim, está no apartamento dela, seu olhar muda de mão: é sua ex Sally quem volta a atraí-lo. O objeto do desejo está sempre do outro lado do vidro. Ninguém está satisfeito com o que tem, e cada conquista traz inevitavelmente uma perda. Como escreveu Cesar Vallejo, há sempre algo que nos liga a quem nos abandona, e sempre algo que nos separa de quem fica conosco.Os melhores filmes de Woody Allen não são necessariamente os mais engraçados, mas aqueles que conseguem conciliar humor e uma dose de amargura, como “Manhattan”, “Hannah e suas irmãs” ou “Crimes e contravenções”. “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” é mais um exemplo perfeito desse delicado equilíbrio: embora faça rir, e bastante, é um filme feito para adultos, um retrato bastante cético das relações afetivas no mundo em que vivemos hoje. Um retrato tão verdadeiro dessa nova ordem (ou desordem) amorosa que é difícil sair do cinema sem aquele tipo de desconforto provocado por situações assustadoramente familiares.

Basicamente a mensagem do filme é que, no terreno dos afetos, só existem duas alternativas: a ilusão e a frustração. Os personagens transitam entre esses dois pólos, em graus variados, às vezes de forma deliberada: um escritor mal-sucedido, sua esposa insatisfeita, a mãe dela, abandonada pelo marido, o pai, que se recusa a aceitar a velhice. Com algo de melancólico, a nublada Londres – onde o diretor também filmou o excelente “Match point” – é um cenário adequado para o sombrio jogo de interesses e a sucessão de discretos mal-entendidos que compõem a trama.

Helena (a ótima Gemma Jones) está desorientada após o divórcio inesperado na terceira idade. Ela procura consolo em uma vidente – na qual todos enxergam uma picareta, mas que acaba acertando em quase tudo que diz. Alfie (Anthony Hopkins) tenta enganar o tempo se matriculando numa academia, fazendo bronzeamento artificial e… se casando com uma garota de programa (Lucy Punch). Infeliz no casamento com Roy (Josh Brolin), o escritor fracassado e desempregado, Sally (Naomi Watts, numa interpretação cheia de nuances), se apaixona pelo chefe, o charmoso galerista Greg (Antonio Banderas), mas não é correspondida. Roy, por sua vez, se envolve com uma jovem vizinha, Dia (Freida Pinto), que está noiva, mas não tem certeza se quer mesmo se casar.

Nessa quadrilha, a narrativa de “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” tem algo de teatral, não somente pela concisão dos diálogos, pela forma de apresentação dos personagens e pelo encadeamento das cenas, mas também por lembrar os enredos daquelas peças de Tennessee Williams ou Arthur Miller em que a verdadeira ação acontece de maneira subliminar, sob o véu das aparências e normalidade que os protagonistas se esforçam em preservar. Evoca, ainda, um filme da fase bergmaniana de Woody Allen, “Interiores”, também sobre centrado em desencontros amorosos e nas falsas expectativas que criamos – e nas mentiras que abraçamos – para enfrentar a realidade.

Roy passa a tarde inteira olhando pela janela para Dia, e quando, por fim, está no apartamento dela, seu olhar muda de mão: é sua ex Sally quem volta a atraí-lo. O objeto do desejo está sempre do outro lado do vidro. Ninguém está satisfeito com o que tem, e cada conquista traz inevitavelmente uma perda. Como escreveu Cesar Vallejo, há sempre algo que nos liga a quem nos abandona, e sempre algo que nos separa de quem fica conosco.

Luciano Trigo

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