O
pesquisador da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) João
Aris Kouyoumdjian, em parceria com cientistas da Universidade de Uppsala, na
Suécia, vem realizando desde 2006 uma série de estudos com o objetivo de
facilitar o diagnóstico da miastenia grave, doença neuromuscular que causa
fraqueza oscilante dos músculos voluntários.
Os
resultados mais recentes serão publicados na próxima edição da
revista Muscle & Nerve, com destaque no editorial. O dados já estão
disponíveis para consulta pela internet.
A miastenia
grave é considerada uma doença autoimune, na qual o próprio organismo do
paciente produz anticorpos que atacam receptores localizados na junção
neuromuscular, prejudicando a transmissão dos impulsos nervosos para os
músculos.
Embora não
existam dados precisos no Brasil, estima-se que a incidência esteja entre 6 e
11 pessoas afetadas por milhão por ano. Dependendo da gravidade e da região
acometida, podem ocorrer queda das pálpebras, visão dupla, queda da cabeça,
fraqueza em membros superiores e inferiores e dificuldade para mastigação,
deglutição e até de respiração.
Os sintomas
podem ser sutis e muito variáveis, o que dificulta o diagnóstico,
principalmente nas formas oculares. A principal característica da doença é que
a fraqueza muscular oscila durante o dia e aumenta à medida que os pacientes se
movimentam.
Por meio de
uma técnica conhecida como eletromiografia de fibra única, portadores de
miastenia grave atendidos no Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital
de Base e voluntários saudáveis estão sendo avaliados no Laboratório de
Investigação Neuromuscular da Famerp.
Kouyoumdjian
introduziu o método no país em 2006, após aprendê-lo com seu desenvolvedor, o
neurofisiologista Erik Stålberg, durante especialização na Universidade de
Uppsala.
“O exame
consiste em introduzir um eletrodo semelhante a uma agulha de acupuntura no
músculo. À medida que o paciente faz movimentos, o aparelho registra as
contrações de uma única fibra muscular”, explicou Kouyoumdjian.
Ao comparar
os registros na tela do aparelho, acrescentou, é possível medir a variação do
tempo de contração de uma fibra muscular em relação à outra – medida denominada
jitter.
Em pessoas
saudáveis, o jitter dura entre 35 e 40 microssegundos, dependendo do músculo
analisado. Já em pacientes com doenças neuromusculares, o jitter pode atingir
valores tão elevados como 100 ou 150 microssegundos.
O
equipamento capaz de fazer essas análises, único no Brasil até então, foi
adquirido em 2009 por meio de um projeto de pesquisa apoiado pela
FAPESP.
“Trata-se de
um eletromiógrafo comum, mas com um software que permite fazer o exame de
eletromiografia de fibra única, mais sensível para diagnosticar a miastenia
grave”, disse Kouyoumdjian.
Outra
novidade, acrescentou, é que os eletrodos de registro usados na pesquisa são
todos concêntricos descartáveis, o que não ocorria anteriormente.
Publicações
de resultados
Como o
método ainda era inédito no país, o primeiro passo foi estabelecer valores de
referência para determinar o limite de normalidade para o jitter. Para isso o
pesquisador avaliou as contrações musculares de pessoas saudáveis.
“Estudamos,
até o momento, os três músculos mais usados no diagnóstico de miastenia:
antebraço (Extensor Digitorum), olhos (Orbicularis Oculi) e testa (Frontalis).
Hoje, diversos países usam nossos valores de referência. Com essa metodologia
conseguimos acertar o diagnóstico em 95% dos casos”, disse Kouyoumdjian.
A pesquisa
mais recente, que analisou as contrações do músculo Frontalis de 20
voluntários saudáveis, além da publicação na Muscle & Nerve, foi
premiada no 59º Annual Meeting da American Association of Neuromuscular and
Electrodiagnostic Medicine (AANEM), realizado em Orlando, nos Estados Unidos,
em outubro.
Outros cinco
artigos já foram publicados por Kouyoumdjian, em parceria com Stålberg, nas
revistas Muscle & Nerve, Clinical
Neurophysiology e Arquivos de Neuro-Psiquiatria . Um deles traz
dados de 20 portadores de miastenia grave atendidos no Ambulatório de Doenças
Neuromusculares do Hospital de Base da Famerp.
Saiba mais
sobre a pesquisa: http://agencia.fapesp.br/14886
Fonte:
Agência Fapesp
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