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domingo, 10 de fevereiro de 2013

CRIANÇA ABANDONADA


Essa que já renegamos
Quando quebramo-lhes todos os dias a cara.
Não apenas com más palavras, mas, em plena praça.
Essa que já diminuímos de tamanho,
Quando a julgamos menor negando-lhe um nome,
Quando a matamos de fome.
Essa que já não cresce, pois a vida a estaciona.
Que continua solitária, pois a corrida a abandona.
Que sob passos vazios caminha em busca do nada,
Pois grandes já são suas falhas.
Que neutralizamos pela unidade,
Tornando escassa sua vontade,
Quando a abandonamos diante da comunidade.
Essa que coletivamente se anula rejeitada em preconceitos,
Que a enche de medo.
Fazendo de sua fantasia...
Uma frustração de despejo, de desejo.
Essa que muitas vezes esconde o rosto por tantos desgostos,
Que já se julga e acha-se um nojo.
Que já não vale uma palavra, nada.
Que não possui sequer um rosto, uma cara.
Pois do mundo só recebe tapas.
Essa que se agasalha no orvalho das ruas,
Por não ter um teto,
Que quase sempre depende de remédios.
Que sobre pedregulhos anda por não ter o que calçar,
Esquecendo-se às vezes, até mesmo de voltar.
Que se cobre de papeis,
Agasalhando-se na falta de um cobertor.
Tudo isso, claro, por falta de amor.
Essa que se protege em pedaços de pano,
Por não ter o que vestir,
Já muitas vezes submissa do pedir.
Que faminta sobrevive por não ter o que comer,
Que vagueando anda sem saber da vida o que fazer,
Que sedenta não se sacia por não ter o que beber,
Que vítima de aniquilamentos permanece
Sem poder se defender,
Que dia-a-dia morre vegetando sem viver.
Que se desfalece quando deixada ao relento,
Que de objetivos sobrevive
Na esperança de aliviar seu sofrimento.
Essa paraplégica da sobrevivência e de conflitos,
Vítima de tantos vícios.
Essa que se anula em vida, fruto da marginalização social
Que a corrompe com imperfeições e defeitos.
E em nome do bem estar e dos que se julgam perfeitos.

Donizete Alves

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