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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Nunca amamos alguém.
Amamos tão somente, a ideia que fazemos de alguém.
É a um conceito nosso – em suma, é nós mesmo – que amamos.
Isto é verdade em toda a escala do amor.
No amor sexual buscamos um prazer nosso
Dado por intermédio de um corpo estranho.
No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso
Dado por intermédio de uma ideia nossa. (...)
As relações entre uma alma e outra,
Através de coisas tão incertas e divergentes
Como as palavras comuns e os gestos que se empreendem,
São matéria de estranha complexidade.
No próprio ato em que nos conhecemos, nos desconhecemos.
Dizem os dois “amo-te” ou pensam-no e sentem-no por troca.
E cada uma quer dizer uma ideia diferente, uma vida diferente,
Até, por ventura, uma cor ou um aroma diferente.
Na soma abstrata de impressões que constitui a atividade da alma. (...)

Fernando Pessoa

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