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domingo, 17 de fevereiro de 2013

O DESFECHO

Prometeu sacudiu os braços manietados
e súplice pediu a eterna compaixão,
ao ver o desfilar dos séculos que vão
pausadamente, como um dobre de finados.

Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião,
uns cingidos de luz, outros ensanguentados...
Súbito, sacudindo as asas de tufão,
fita-lhe a águia em cima os olhos espantados.

Pela primeira vez a víscera do herói,
que a imensa ave do céu perpetuamente rói,
deixou de renascer às raivas que a consomem.

Uma invisível mão as cadeias dilui:
frio, inerte, ao abismo um corpo morto rui:
acabara o suplício e acabara o homem.

Machado de Assis

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