Assim como a criança
humildemente afaga a imagem do herói,
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces e eu fantasio um levante;
mas manhã, diante do juiz, talvez meus lábios calem a verdade como um foco de germes capaz de me destruir.
A mim, quase me arrastam pela gola do paletó à porta do templo e me pedem que aguarde
até que a Democracia se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei, porque não estou amedrontado a ponto de cegar,
Eduardo, poeta e artista plástico que já expôs na França na Alemanha, viu o poema impresso – e atribuído a Maiakóvski – na parede de uma galeria de arte em Paris e num café em Praga, na Tchecoslováquia.
É este livro, “No Caminho com Maiakovski”, com todos os poemas de Eduardo Alves da Costa – a obra publicada até 1986 e os poemas inéditos – que chega agora às livrarias, com tiragem de 5.000 exemplares (significativa para livros de poesia) e todo o apoio do tele dramaturgo Manoel Carlos e parte do elenco da novela, que se dispuseram a homenagear o autor na noite de autógrafos, dia 12 de outubro (um domingo) na Livraria Argumento, no Rio.
A Geração Editorial – uma das editoras mais agressivas do mercado – pretende transformar a obra de Eduardo em um fenômeno de vendas.
assim me aproximo de ti, Maiakovski.
Não importa o que me possa acontecer por andar ombro a ombro com um poeta soviético.
Lendo teus versos, aprendi a ter coragem.
Não importa o que me possa acontecer por andar ombro a ombro com um poeta soviético.
Lendo teus versos, aprendi a ter coragem.
Tu sabes, conheces melhor do
que eu a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.
Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm a
ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz; e nós,
Os humildes baixam a cerviz; e nós,
Que não temos pacto algum
com os senhores do mundo, por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces e eu fantasio um levante;
mas manhã, diante do juiz, talvez meus lábios calem a verdade como um foco de germes capaz de me destruir.
Olho ao redor e o que vejo e
acabo por repetir são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe e a propaganda lhe destrói a consciência.
Mal sabe a criança dizer mãe e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam pela gola do paletó à porta do templo e me pedem que aguarde
até que a Democracia se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei, porque não estou amedrontado a ponto de cegar,
que ela tem uma espada a lhe
espetar as costelas e o riso que nos mostra é uma tênue cortina lançada sobre
os arsenais.
Vamos ao campo e não os
vemos ao nosso lado, no plantio.
Mas ao tempo da colheita lá estão e acabam por nos roubar até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso defender nossos lares mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
Mas ao tempo da colheita lá estão e acabam por nos roubar até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso defender nossos lares mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo, por
temor aceito a condição de falso democrata
e rotulo meus gestos com a palavra liberdade, procurando, num sorriso,
e rotulo meus gestos com a palavra liberdade, procurando, num sorriso,
esconder minha dor diante de
meus superiores.
Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes, o coração grita - MENTIRA!
Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes, o coração grita - MENTIRA!
NOTA:
Estes versos fazem parte,
desde 1968, quando foram escritos, de um longo poema do brasileiro Eduardo
Alves da Costa, que nasceu em Niterói e vive desde a infância em São Paulo. Por
algum motivo, foram logo atribuídos pelo escritor Roberto Freire, na epígrafe
de um de seus livros, ao poeta russo Wladimir Maiakovski. O equívoco foi
corrigido, mas a falsa autoria pegou: os versos foram transformados em pôster
pelos líderes estudantis que combateram a ditadura militar, nos anos 70;
transformados em inscrição da camiseta amarela da campanha pelas Diretas Já,
nos anos 80: e, traduzidos para vários idiomas, transformados em corrente na
Internet, nos anos 90.
Aí, o autor já não era nem
Eduardo nem Maiakóvski, mas Gabriel García Márquez, Bertolt Brecht, Wilhelm
Reich e Leopold Senghor, entre outros.
Eduardo, poeta e artista plástico que já expôs na França na Alemanha, viu o poema impresso – e atribuído a Maiakóvski – na parede de uma galeria de arte em Paris e num café em Praga, na Tchecoslováquia.
Recentemente, foi motivo de
mais uma polêmica quando o autor de telenovelas Manoel Carlos colocou um de
seus personagens declamando os conhecidos versos na novela “Mulheres
Apaixonadas”, para 70 milhões de telespectadores. Uma crítica de TV deu nota
zero para Manoel Carlos por ter dado a autoria correta: para a distraída
jornalista, o autor ainda era... Maiakovski.
O equívoco realimentou a polêmica: Manoel Carlos criou um diálogo, no capítulo seguinte, esclarecendo o erro – não dele, mas da jornalista – e contando a verdadeira história do poema. Milhares de telespectadores congestionaram os telefones da emissora perguntando onde encontrar o livro que contém o poema. Estava esgotado, mas Eduardo não teve dúvidas: procurou editoras interessadas em relançar sua obra, fora das livrarias há mais de 15 anos, e apenas uma – a Geração Editorial – aceitou o desafio de reeditá-la em duas semanas, a tempo de fazer o lançamento ainda dentro da novela – que terminaria no dia 10 de outubro.
O equívoco realimentou a polêmica: Manoel Carlos criou um diálogo, no capítulo seguinte, esclarecendo o erro – não dele, mas da jornalista – e contando a verdadeira história do poema. Milhares de telespectadores congestionaram os telefones da emissora perguntando onde encontrar o livro que contém o poema. Estava esgotado, mas Eduardo não teve dúvidas: procurou editoras interessadas em relançar sua obra, fora das livrarias há mais de 15 anos, e apenas uma – a Geração Editorial – aceitou o desafio de reeditá-la em duas semanas, a tempo de fazer o lançamento ainda dentro da novela – que terminaria no dia 10 de outubro.
É este livro, “No Caminho com Maiakovski”, com todos os poemas de Eduardo Alves da Costa – a obra publicada até 1986 e os poemas inéditos – que chega agora às livrarias, com tiragem de 5.000 exemplares (significativa para livros de poesia) e todo o apoio do tele dramaturgo Manoel Carlos e parte do elenco da novela, que se dispuseram a homenagear o autor na noite de autógrafos, dia 12 de outubro (um domingo) na Livraria Argumento, no Rio.
Uma grande alegria para
Eduardo, que, depois de quase 40 anos, vê seu poema mais famoso ser conhecido,
de repente, por 70 milhões de pessoas.
A Geração Editorial – uma das editoras mais agressivas do mercado – pretende transformar a obra de Eduardo em um fenômeno de vendas.
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