Uma vida sem direito à assistência médica
Por: JOSÉ TAKEO ICHIHARA
A pouco menos de duas semanas para encerrar a primeira década do século XXI, constatou-se como a falta de providências, quanto à análise das tendências, comprometeu o futuro das pessoas. Os estudos técnicos mostram que teremos menos crianças e mais idosos, em pouco mais de vinte anos, num país que era essencialmente jovem. Mas como isso não ocorreu no curto prazo, claro, a omissão de medidas preventivas, no momento certo, só aumentará a carga de problemas para os próximos gestores e contribuintes.
Há algum tempo esses alertas já fazem parte de debates e declarações de especialistas no assunto. Como preparar ou adaptar a infraestrutura necessária para atender uma população que será muito diferente da atual? Escolas, hospitais, repartições públicas, transporte coletivo e locais públicos, fatalmente, sofrerão modificações ou seriam construídos sob novo conceito. Sem ser pessimista, mas primando pela racionalidade, descortina-se um quadro pouco animador para o futuro idoso – um sério candidato à exclusão compulsória da sociedade.
Mas o futuro intranquilo não atinge somente os velhos. Como nascem menos crianças, além da diminuição no índice de mortalidade, houve um desinteresse maciço dos médicos pela especialização em pediatria, o profissional que cuida dos recém-nascidos até a pré-adolescência. Daí que muito problema físico ou mental, que poderia ser detectado e curado nesta fase da vida, é transferido para o período onde a pessoa precisa estar apta para produzir. O resultado? A incerteza ao se colocar um trabalhador no mercado de trabalho!
Isso, entretanto, não deveria ser tão traumático se houvesse uma boa assistência na terceira idade, já que todos estão vivendo mais. Qual o quê! Novamente uma pesquisa – para que servem mesmo? – mostrou que falta geriatra, o médico especialista no tratamento do idoso, para atender um contingente que não para de crescer. E aí, como será o futuro?! Esta descoberta questiona outra que comprova o surgimento de uma geração “avós saúde”, a turma que não quer saber de bengala e tricô. Mas a questão é a média, não as exceções.
O mundo dos negócios, porém, é focado naquilo que pode dar um melhor retorno financeiro. Por isso o crescimento exorbitante da indústria de embelezamento (cosméticos, academias, clínicas estéticas e reparadoras etc.) em detrimento do que será mais útil a longo prazo (pediatria, combate a drogas etc.), que conta com o imenso apoio da mídia. Que isso seja o objetivo das empresas privadas, nada contra. Agora... o interesse maior da população não contar com a mínima atenção dos governantes... é a certeza do desamparo total.
Valorizar o especialista é acreditar que vale à pena a dedicação e o sacrifício individual do profissional. Da mesma forma, desvalorizar o generalista é abrir mão de experiência e conhecimento adquirido no exercício da profissão. Mas desprestigiar quem cuida de crianças e velhos é desprezar o verdadeiro valor de uma vida. Aquelas são o futuro de qualquer nação, enquanto estes são as provas vivas da capacidade de realização do ser humano. Um estudo mostrou que em alguns estados só existe um geriatra atuando. Os idosos merecem isso?
Uma reportagem, não me lembro bem a data, exibiu como era previsível a vida na Suíça, do nascimento até a velhice. Trazendo isso a valores presentes não deve ter ocorrido muita alteração. Eles são precisos, como os relógios que fabricam e encantam o mundo. Chegamos até a achar que viver assim seria muito chato, sem graça e emoção, inadequado ao nosso estilo. Mas agora descobrimos que a vida do brasileiro também é programada do nascimento à morte: com um desamparo total! Portanto... Te vira! Dá o teu jeito, ô Mané!
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