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terça-feira, 26 de abril de 2011

Como é fácil preconceituar!

Por: ALESSANDRA LELES ROCHA

Diariamente a sociedade mundial escancara na mídia os famigerados “cânceres” do mundo contemporâneo, os quais afetam diretamente, e raramente de modo indireto, o convívio e o bem estar da população. Violência, drogas, abuso de poder, corrupção, etc.etc.etc. são as bolas da vez; mas, uma questão em especial quero tratar nessa crônica: 

O PRECONCEITO

Segundo o dicionário da língua portuguesa, Caldas Aulete, sua definição é: 

“preconceito (pre.con.cei.to) sm.  

1 Opinião ou ideia preconcebida sobre algo ou alguém, sem conhecimento ou reflexão. 
2 Atitude genérica de discriminação ou rejeição de pessoas, grupos, ideias etc., com base no sexo, raça, nacionalidade, religião etc. (preconceito religioso/racial). • pré.con.cei.tu:o.so a.sm.”. Só de ler essas palavras, uma avalanche de fatos e episódios povoa nossa cabeça, não é mesmo? Como é fácil rotular, estereotipar, prejulgar, preconceituar o mundo ao redor!

De fato, somos na profundeza de nossos genes, criaturas únicas e, portanto, munidas de diferenças uns dos outros; mas, nada radical o bastante para nos impedir de conhecer e determinar o grau de convivência que pretendemos estabelecer uns com os outros. Conscientes (ou inconscientes por opção), a grande verdade é que feios ou bonitos, ricos ou pobres, hetero ou homossexuais, crianças ou idosos, solteiros ou casados, ninguém escapa de ir ao banheiro, de ter dor de barriga, de dente, de cabeça, de sofrer um acidente, de perder um ente querido, de perder dinheiro, de ser traído, de... de... de... Talvez seja essa “tábua rasa” do “achismo” de que “sou superior ao outro” que nos impossibilite de exercer a atitude primaz da coexistência; sobretudo, quando esse “achismo” vem carregado por uma consciência coletiva de determinado grupo de pessoas e não, do exercício individual da própria reflexão. Como dizer que não gosta de jiló sem ao menos ter provado um, considerando apenas os comentários de terceiros?
Já diz os ditos populares “quem vê cara não vê coração” e “o hábito não faz o monge”, ou seja, defeitos, virtudes, capacidades, limitações, caráter, altruísmo,... nada disso se mensura na passagem de olho breve, fugaz, superficial. Nosso amadurecimento, nossa evolução, nosso aprimoramento individual se dá no curso dos dias, dos longos dias que passamos sobre a Terra. É o estreitamento dos laços, os olhos nos olhos, a convivência, o despojamento das carapaças que nos vão aproximando ou distanciando uns dos outros. Vemos e enxergamos o mundo sob prismas muito distintos; mas, o fato de existirem divergências ideológicas, sociais, comportamentais, não significa que seja preciso o ódio, a intolerância, o desrespeito, a invasão de privacidade e limites, a violência, para dirimir a questão. Ao contrário; é o encantamento daquilo que não é semelhante, nem igual, que nos acrescenta, que nos retira do ostracismo em que nossa pseudo autossuficiência e arrogância gosta de nos exilar.
Por onde andará o Homo sapiens racional, inteligente, articulado, capaz de gerir a convivência humana? Calamos a boca, tampamos os ouvidos, fechamos os olhos, e vivemos à sombra de uma periferia fútil e tosca que nos empurra a julgar o universo sob a ótica limitada do nosso próprio umbigo, estabelecida por nossa “razão”. Para uns quem tem muito dinheiro só pode ser maravilhoso. Para outros quem detém algum tipo de poder é fantástico. Para alguns quem consegue viver driblando os preceitos de ética e moral merece ser reverenciado. ... Diante desse tipo de exemplos é que vamos nos dando conta, inclusive, da distorção com que as pessoas elegem os seus ídolos, os seus modelos de vida, para não muito tempo depois se frustrarem, se decepcionarem com a escolha.

Como sempre acontece na vida, ainda nos deparamos com situações em que a força da necessidade empurra “goela abaixo” o preconceito de muita gente por aí; afinal de contas, somos cidadãos, pagamos impostos, geramos riquezas e contribuímos para o desenvolvimento do país, e nesse contexto ninguém se atreve a manifestar preconceito, não é mesmo? Mas, infelizmente, o preconceito tem se consolidado cada dia mais atroz em todos os segmentos da sociedade e figurado nas mais diferentes formas: bullyng, homofobia, preconceito racial, preconceito religioso, preconceito quanto à classe social, preconceitos contra estrangeiros ou pessoas de outros estados da federação. Esse “câncer” social está se mestastando e muito pouco se fala, de forma clara e contundente, sobre o assunto; quanto às ações de transformação, elas ainda permanecem no ápice do discurso durante algum episódio de agressão ou morte, para depois se calarem no esquecimento.
A legislação para coibir e punir o preconceito existe; mas, não será a lei, a doutrina jurídica, a promotora definitiva da ruptura com esse paradigma social. Somos nós, cada um individualmente, que precisa rever seus pontos de vista, seus conceitos, suas análises, para construir a sua parte em favor de uma sociedade com menos entraves e barreiras. Trata-se de uma consciência cidadã a ser discutida e trabalhada no âmbito da família, da escola, da igreja, do trabalho; enfim, de todos os círculos sociais. Afinal, a pedra bruta também tem seu valor e podemos estar descartando diamantes de muitos quilates sem nos darmos conta, por puro preconceito.

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