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sábado, 23 de abril de 2011

Assunto: BBB na visão de Luis Fernando Veríssimo

BIG BROTHER BRASIL  

(Luis Fernando Veríssimo)

Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB),
produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos
chegar ao fundo do poço... 
A  décima primeira (está indo longe!)  edição do BBB é uma síntese do que
há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil,... encontrar as palavras
adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência. 

Dizem que em Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu,
teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo,
principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema
banalização do sexo. Impossível assistir, ver este programa ao lado dos
filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos, na mesma casa, a casa dos “heróis”,
como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que
cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV,
seja entre homossexuais ou heterossexuais. O BBB é a realidade em busca
do IBOPE... 

Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. 
Ele prometeu um “zoológico humano divertido”. Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas. 

Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. 

Eu gostaria de perguntar, se ele não pensa que esse programa é a morte da
cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade. 

Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro
repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e
meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente,
chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? 

São esses nossos exemplos de heróis? 

Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros: 
profissionais da saúde, professores da rede pública 
(aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados...

Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a isso, todo santo dia. 

Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas
porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna. 

Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas 
contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em 
outra reportagem apresentada, meses atrás pela própria Rede Globo. 

O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, 
não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo,
o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral. 

E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a 
"entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!

Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: 
José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão. 

Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a
programas de inclusão social: moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos
brasileiros? 

(Poderiam ser feitas mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 
computadores!) 

Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, 
por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores. 

Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana 
ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar... , 
ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , 
visitar os avós.. , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... 
ou simplesmente dormir. 

Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro 
e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construída nossa sociedade. 

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