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domingo, 27 de maio de 2012


Biografia, obras e estilo literário. 

Cecília Meireles é uma das grandes escritoras da literatura brasileira. Seus poemas encantam os leitores de todas as idades. Nasceu no dia 7 de novembro de 1901, na cidade do Rio de Janeiro e seu nome completo era Cecília Benevides de Carvalho Meireles.

Sua infância foi marcada pela dor e solidão, pois perdeu a mãe com apenas três anos de idade e o pai não chegou a conhecer (morreu antes de seu nascimento). Foi criada pela avó Dona Jacinta. Por volta dos nove anos de idade, Cecília começou a escrever suas primeiras poesias.  

Formou-se professora (cursou a Escola Normal) e com apenas 18 anos de idade, no ano de 1919, publicou seu primeiro livro “Espectro” (vários poemas de caráter simbolista). Embora fosse o auge do Modernismo, a jovem poetisa foi fortemente influenciada pelo movimento literário simbolista.
No ano de 1922, Cecília casou-se com o pintor Fernando Correia Dias. Com ele, a escritora teve três filhas.  

Sua formação como professora e interesse pela educação levou-a a fundar a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro no ano de 1934. Escreveu várias obras na área de literatura infantil como, por exemplo, “O cavalinho branco”, “Colar de Carolina”, “Sonhos de menina”, “O menino azul”, entre outros. Estes poemas infantis são marcados pela musicalidade (uma das principais características de sua poesia).

O marido suicidou-se em 1936, após vários anos de sofrimento por depressão. O novo casamento de Cecília aconteceu somente em 1940, quando conheceu o engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira.  

No ano de 1939, Cecília publicou o livro Viagem. A beleza das poesias trouxe-lhe um grande reconhecimento dos leitores e também dos acadêmicos da área de literatura. Com este livro, ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.

Cecília faleceu em sua cidade natal no dia 9 de novembro de 1964.  

Relação de suas obras: 

Espectro , 1919
Criança, meu amor, 1923
Nunca mais... e Poemas dos Poemas, 1923
Criança meu amor..., 1924
Baladas para El-Rei, 1925
O Espírito Vitorioso, 1929 (ensaio - Portugal)
Saudação à menina de Portugal, 1930
Batuque, Samba e Macumba, 1935 (ensaio - Portugal)
A Festa das Letras, 1937
Viagem, 1939
Vaga Música, 1942
Mar Absoluto, 1945
Rute e Alberto, 1945
Rui — Pequena História de uma Grande Vida, 1949 (biografia de Rui Barbosa para crianças)
Retrato Natural, 1949
Problemas de Literatura Infantil, 1950
Amor em Leonoreta, 1952
Doze Noturnos de Holanda & O Aeronauta, 1952
Romanceiro da Inconfidência, 1953
Batuque, 1953
Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955
Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955
Panorama Folclórico de Açores, 1955
Canções, 1956
Giroflê, Giroflá, 1956
Romance de Santa Cecília, 1957
A Bíblia na Literatura Brasileira, 1957
A Rosa, 1957
Obra Poética,1958
Metal Rosicler, 1960
Poemas Escritos na Índia, 1961
Poemas de Israel, 1963
Antologia Poética, 1963
Solombra, 1963
Ou Isto ou Aquilo, 1964
Escolha o Seu Sonho, 1964
Crônica Trovada da Cidade de Sam Sebastiam no Quarto Centenário da sua Fundação Pelo Capitam-Mor  Estácio de Saa, 1965
O Menino Atrasado, 1966
Poésie (versão para o francês de Gisele Slensinger Tydel), 1967
Antologia Poética, 1968
Poemas italianos, 1968
Poesias (Ou isto ou aquilo & inéditos), 1969
Flor de Poemas, 1972
Poesias completas, 1973
Elegias, 1974
Flores e Canções, 1979
Poesia Completa, 1994
Obra em Prosa - 6 Volumes - Rio de Janeiro, 1998
Canção da Tarde no Campo, 2001
Episódio humano, 2007


“Considero o lirismo de Cecília Meireles o mais elevado da moderna poesia de língua portuguesa”.  Nenhum outro poeta iguala o seu desprendimento, a sua fluidez, o seu poder transfigurador, a sua simplicidade e seu preciosismo, porque Cecília, só ela, se acerca da nossa poesia primitiva e do nosso lirismo espontâneo... A poesia de Cecília Meireles é uma das mais puras, belas e válidas manifestações da literatura contemporânea.

Teatro:

1947 - O jardim 
1947 - Ás de ouros
Observação: "O vestido de plumas"; "As sombras do Rio"; "Espelho da ilusão"; "A dama de Iguchi" (texto inspirado no teatro Nô, arte tipicamente japonesa), e "O jogo das sombras" constam como sendo da biografada, mas não são conhecidas.

OUTROS MEIOS:

1947 - Estreia "Auto do Menino Atrasado", direção de Olga Obry e Martim Gonçalves. música de Luis Cosme; marionetes, fantoches e sombras feitos pelos alunos do curso de teatro de bonecos.

1956/1964 - Gravação de poemas por Margarida Lopes de Almeida, Jograis de São Paulo e pela autora (Rio de Janeiro - Brasil)

1965 - Gravação de poemas pelo professor Cassiano Nunes (New York - USA).

1972 - Lançamento do filme "Os inconfidentes", direção de Joaquim Pedro de Andrade, argumento baseado em trechos de "O Romanceiro da Inconfidência".

Dados obtidos em livros da autora e sobre ela, e no site do Itaú Cultural.



Frases de Cecília 

"Aprendi com a primavera; a deixar-me cortar e voltar sempre inteira."

 “Onde é que dói na minha vida para que eu me sinta tão mal?"

 “Em que espelho ficou perdida a minha face?"

"...que você gostaria de sonhar esta noite?"

"Devíamos poder sonhar com as criaturas que nunca vimos e gostaríamos de ter visto..."

“... jardins no meio do mar, pianos brancos que tocam sozinhos, livros que se desarmam...”.

"Quantos lugares meu Deus, para viajar! Lugares, recordados ou apenas imaginados."

"Hoje desaprendo o que tinha aprendido até ontem e que amanhã recomeçarei a aprender."

"Quanto mais me despedaço, mais fico inteira e serena."

 “O respeito mútuo, um respeito sem fingimentos e sem rotinas, um respeito bem intencionado, que todos os dias se ilumina de argumentos novos e todos os dias se sente pequeno diante da sua aspiração, poderá servir de base, dentro da obra educacional, a um movimento de resultados eficientes, no problema urgentíssimo da salvação do mundo pela garantia unânime da paz."

"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda." 




Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?


AQUELE QUE APROXIMA OS QUE SEMPRE ESTARÃO

Aquele que aproxima os que sempre estarão
distantes e desunidos
e separa os que pareceriam
para sempre unidos e semelhantes
enxuga meus olhos
no alto da noite de mil direções.
Encostada a seu peito,
contemplo desfigurada
o negro curso da vida
como, um dia,
do alto de uma fortaleza
vi a solidão das pedras milenares
que desciam por suas arruinadas vertentes.

(Poesias Completas de Cecília Meireles)


O Amor...

É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os
fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!


LUA ADVERSA 

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...


Despedida

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.


 Frases de Cecília 

Não perguntavam por mim, mas deram por minha falta. Na trama da minha ausência, inventaram tela falsa.

Dai-me Senhor, a perseverança das ondas do mar, que fazem de cada recuo, um ponto de partida para um novo avançar.

Ainda que sendo tarde e em vão, perguntarei por que motivo tudo quanto eu quis de mais vivo tinha por cima escrito: \'Não!

Eles virão te oferecer o ouro da Terra. E tu dirás que não. A beleza. E tu dirás que não. O amor. E tu dirás que não, para sempre. Eles te oferecerão o ouro d'além da Terra. E tu dirás sempre o mesmo. Porque tens o segredo de tudo. E sabes que o único bem é o teu.

Pus o meu sonho num navio/ e o navio em cima do mar;/ - depois, abri o mar com as mãos,/ para o meu sonho naufragar.

Pois o amor não é doce, pois o bem não é suave, pois amanhã, como ontem, é amarga a liberdade.

"Meu coração, feito de chama Em lugar de sangue, derrama, Um longo rio de esplendor."

Aprendi com a primavera; a deixar-me cortar e voltar sempre inteira.

No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro:
no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta.



Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.


Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve…

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…

e um dia me acabarei.


Primeiro Motivo da Rosa

Vejo-te em seda e nácar,
e tão de orvalho trêmula, que penso ver, efêmera,
toda a Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil.

Meus olhos te ofereço:
espelho para face que terás, no meu verso,
quando, depois que passes,
jamais ninguém te esqueça.

Então, de seda e nácar,
toda de orvalho trêmula, serás eterna. E efêmero
o rosto meu, nas lágrimas
do teu orvalho… E frágil.


Leveza

Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.

E a cascata aérea
de sua garganta,
mais leve.

E o que lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.

E o desejo rápido
desse mais antigo instante,
mais leve.

E a fuga invisível
do amargo passante,
mais leve.


Inscrição na Areia

O meu amor não tem
importância nenhuma.
Não tem o peso nem
de uma rosa de espuma!

Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?

O meu amor não tem
importância nenhuma.


Noções

Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.

Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.

Virei-me sobre a minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera…


Canção

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.


Quarto Motivo da Rosa

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.


Discurso

E aqui estou, cantando.

Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo por onde passa.

Venho de longe e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes
andaram.

Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.

Pois aqui estou, cantando.

Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute?

Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim?


Reinvenção

A vida só é possível
reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas…
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo… — mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço…
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.


Máquina Breve

O pequeno vaga-lume
com sua verde lanterna,
que passava pela sombra
inquietando a flor e a treva
— meteoro da noite, humilde,
dos horizontes da relva;
o pequeno vaga-lume,
queimada a sua lanterna,
jaz carbonizado e triste
e qualquer brisa o carrega:
mortalha de exíguas franjas
que foi seu corpo de festa.
Parecia uma esmeralda
e é um ponto negro na pedra.
Foi luz alada, pequena
estrela em rápida seta.
Quebrou-se a máquina breve
na precipitada queda.
E o maior sábio do mundo
sabe que não a conserta.


Serenata

Repara na canção tardia
que nitidamente se eleva,
num arrulho de fonte fria.

O orvalho treme sobre a treva
e o sonho da noite procura
a voz que o vento abraça e leva.

Repara na canção tardia
que oferece a um mundo desfeito
sua flor de melancolia.

É tão triste, mas tão perfeito,
o movimento em que murmura,
como o do coração no peito.

Repara na canção tardia
que por sobre o teu nome, apenas,
desenha a sua melodia.

E nessas letras tão pequenas
o universo inteiro perdura
E o tempo suspira na altura
por eternidade serena.


Tu Tens um Medo

Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo…
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!
O que tu viste amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos
Humanos,
Esquecidos…
Enganados…
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor…
… E tudo que era efêmero
se desfez.
E ficaste só tu, que é eterno.


Marcha

As ordens da madrugada
romperam por sobre os montes:
nosso caminho se alarga
sem campos verdes nem fontes.
Apenas o sol redondo
e alguma esmola de vento
quebram as formas do sono
com a ideia do movimento.

Vamos a passo e de longe;
entre nós dois anda o mundo,
com alguns mortos pelo fundo.
As aves trazem mentiras
de países sem sofrimento.
Por mais que alargue as pupilas,
mais minha dúvida aumento.

Também não pretendo nada
senão ir andando à toa,
como um número que se arma
e em seguida se esboroa,
- e cair no mesmo poço
de inércia e de esquecimento,
onde o fim do tempo soma
pedras, águas, pensamento.

Gosto da minha palavra
pelo sabor que lhe deste:
mesmo quando é linda, amarga
como qualquer fruto agreste.
Mesmo assim amarga, é tudo
que tenho, entre o sol e o vento:
meu vestido, minha música,
meu sonho e meu alimento.

Quando penso no teu rosto,
fecho os olhos de saudade;
tenho visto muita coisa,
menos a felicidade.
Soltam-se os meus dedos ristes,
dos sonhos claros que invento.
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento.

Como tudo sempre acaba,
oxalá seja bem cedo!
A esperança que falava
tem lábios brancos de medo.
O horizonte corta a vida
isento de tudo, isento…
Não há lágrima nem grito:
apenas consentimento.


sexta-feira, 18 de maio de 2012















“Para quem deseja ver, haverá sempre luz suficiente;  para quem rejeita ver, haverá sempre obscuridade!”

Pascal


“Procure e encontrara, pois o que não é procurado permanece para sempre perdido.”

Sófocles


 “Polir as lentes da humanidade”.

Spinoza


“O verdadeiro mal da velhice não é o enfraquecimento do corpo, mas a indiferença da alma.”

Maurois


"Se você ouve uma voz interior dizendo ‘Não sou um pintor’, então pinte... E a voz se calará."
                                                                    
                                                  Vincent Van Gogh


“Vá além do que você acredita e alcance um lugar interior sem história, onde nasce toda energia criativa.”

Steve Chandler

“É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do que falar e acabar com a dúvida.”

 Abraham Lincoln


“Errar é humano, mas quando a borracha se gasta mais do que o lápis você está positivamente exagerando.”

                                                          J. Jenkins


“Se você é capaz de sorrir quando tudo deu errado, é porque descobriu  em quem pôr a culpa.”

     Thomas Jones


“Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra.”

     Malachy Mccourt


“Do dia em que eu perder dentro de mim a minha própria importância - tudo estará perdido.”

    Clarice Lispector


Disse, então, Altamitra: Fala-nos do Amor.
Com uma voz poderosa ele disse:
Quando o amor vos chamar, segui-o,
Apesar do seu caminho ser duro e íngreme.
E quando suas asas o envolverem, abraçai-o,
Pesar da espada escondida entre suas penas poder ferir-vos.
E quando ele falar convosco, acreditai nele,
Apesar de sua voz poder esfacelar vossos sonhos como o vento norte arruína o jardim.

Pois mesmo quando o amor vos coroa, ele vos crucifica.

O amor não dá nada além de si mesmo e não toma nada além de si mesmo.
O amor não possui nem é possuído;
Pois o amor é suficiente ao amor.

Quando vós amais, não deveis dizer: “Deus está no meu coração”, mas sim “Estou no coração de Deus”.
E não pensai que podeis dirigir o curso do amor, pois o amor, se achar que mereceis, dirige o vosso curso.

Trecho extraído do livro: O Profeta Khalil Gibran

domingo, 13 de maio de 2012

Minha mãe


Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo da vida, minha mãe.
Canta a doce cantiga que cantavas
Quando eu corria doido ao teu regaço
Com medo dos fantasmas do telhado.
Nina o meu sono cheio de inquietude
Batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor que me espera eternamente
Para ir embora.  Expulsa a angústia imensa
Do meu ser que não quer e que não pode
Dá-me um beijo na fonte dolorida
Que ela arde de febre, minha mãe.

Aninha-me em teu colo como outrora
Dize-me bem baixo assim: — Filho, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os que de há muito te esperavam
Cansados já se foram para longe.
Perto de ti está tua mãezinha
Teu irmão. que o estudo adormeceu
Tuas irmãs pisando de levinho
Para não despertar o sono teu.
Dorme, meu filho, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a renúncia. Dize que eu fique
Afugenta este espaço que me prende
Afugenta o infinito que me chama
Que eu estou com muito medo, minha mãe.

Vinícius de Moraes 

sábado, 12 de maio de 2012

Quem não sabe dar nada não sabe sentir nada


QUANDO SENTIMOS QUE oferecemos algo ao próximo, de repente
tomamos consciência de nosso valor. Ninguém é mais pobre que
uma pessoa que não dá nada, pois é na doação que demonstramos
nossa riqueza.
E não se trata apenas de bens materiais.
A maior avareza que existe é a do coração. Os que andam pelo
mundo sem transmitir seus sentimentos acabam aprisionados
em uma couraça, impedidos de sentir qualquer coisa, como no
conto O cavaleiro preso na armadura, de Robert Fischer.
Sobre isso, o dramaturgo Alejandro Jodorowsky disse o seguinte:
“O que você dá, dá. O que não dá, perde.”
Vale a pena verifi car em que nível está nosso intercâmbio
com o mundo. Assim como acontece com a economia dos países,
a prosperidade depende da circulação de riquezas. Quando elas
param, perdem o valor e a economia entra em recessão. O mesmo
acontece com a riqueza do coração.
Tão importante quanto dar é saber receber. Somente as pessoas
capazes de fazer o amor fl uir em ambas as direções podem
se considerar prósperas emocionalmente.

Livro  : Nietzsche para estressados
Autor : Allan Percy

Estados de Ânimo


Umas vezes me sinto
como pobre na colina
e outras como montanha
de cumes repetidos

umas vezes me sinto
como um precipício
e em outras como um céu
azul mas distante

Às vezes a gente é
manancial entre rochas
e outras vezes árvore
com as últimas folhas

mas hoje me sinto apenas
como lagoa insone
com um embarcadouro
já sem embarcações

uma lagoa verde
imóvel e paciente
de bem com suas algas
seus musgos e seus peixes

sereno em minha confiança
confiante em que uma tarde
te aproximes e te olhes
te olhes ao olhar-me.

Mário Benedetti

“A vida precisa do vazio: a lagarta dorme num vazio chamado casulo até se transformar em borboleta. A música precisa de um vazio chamado silêncio para ser ouvida. Um poema precisa do vazio da folha de papel em branco para ser escrito. E as pessoas, para serem belas e amadas, precisam ter um vazio dentro delas. A maioria acha o contrário; pensa que o bom é ser cheio. Essas são as pessoas que se acham cheias de verdades e sabedoria e falam sem parar. São umas chatas quando não são autoritárias. Bonitas são as pessoas que falam pouco e sabem escutar. A essas pessoas é fácil amar. Elas estão cheias de vazio. E é no vazio da distância que vive a saudade...” 

 Rubem Alves

Editoras investem mais em autobiografias e livro de memórias escrito por terceiros

Publicado originalmente por O Globo

Restrições na legislação deixaram empresas com medo das biografias não autorizadas


RIO – Roberto Carlos assustou muita gente. O recolhimento do livro sobre o cantor escrito pelo pesquisador Paulo César de Araújo, “Roberto Carlos em detalhes”, de 2006, levou as editoras a temerem investir em biografias não autorizadas. Ao mesmo tempo, obras que contam histórias de vida ou servem de exemplo são sucesso de venda. O resultado é a explosão de biografias autorizadas, livros de memórias e obras com dicas, pensamentos e reflexões. Com um diferencial: mesmo escritas em primeira pessoa, muitas delas tiveram uma mãozinha de terceiros. Ou duas. Seja por falta de tempo ou de domínio literário, quem deseja ter sua vida registrada recorre cada vez mais a jornalistas e escritores.

São muitos os exemplos de livros feitos em parceria: há pouco, foram lançados os do empresário Eike Batista, do lutador Anderson Silva e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em preparação estão os do secretário de Segurança José Mariano Beltrame, do produtor de cinema Luiz Carlos Barreto, dos empresários Abilio Diniz, Luiz Calainho e Alexandre Accioly, do radialista Milton Neves e de Carolyne Ferreira, ex-apresentadora do “Zona Quente” do canal Sexy Hot.

A coautoria pode ser assinalada de diversas formas. Desde a omissão completa do escritor — caso do ghost writer — até a inclusão do nome na capa, de forma discreta. Entre os extremos, há o simples agradecimento ou a citação “em depoimento a” nas páginas internas. O negócio é tão promissor que surgiu até o selo Primeira Pessoa, editado por Hélio Sussekind. Ele faz parte da editora Sextante, de Marcos e Tomás Pereira. A ideia veio a partir da constatação de que havia um “vácuo”.

— Por causa das restrições na legislação brasileira, é um risco assumir o investimento numa biografia não autorizada. E vimos que havia gente interessante no Brasil em quantidade muito superior aos lançamentos de biografias — diz Sussekind. — Esse mercado está mais aquecido do que nunca no país.

Ele já lançou “O X da questão”, de Eike Batista, em depoimento ao jornalista Roberto D’Ávila, “Anderson Spider Silva”, em depoimento ao jornalista Eduardo Ohata, e “Toda maneira de amor vale a pena”, da jornalista Bety Orsini, a partir de depoimentos de homossexuais — fora as biografias tradicionais de José Alencar, da jornalista Eliane Cantanhêde, e da presidente Dilma Rousseff, do jornalista Ricardo Amaral. A próxima aposta é a de Beltrame, em depoimento ao jornalista Sérgio Garcia e a Amaral, para este semestre.

Anderson gostou da experiência.
— Hélio disse que queria me dar a chance de contar não só o que me tornei mas de onde vim e como foi minha caminhada. Foi uma oportunidade que jamais esquecerei — diz o lutador, explicando que o livro não reflete somente Anderson Silva, mas sim uma “identidade como a de muitos que lutam no seu dia a dia”.

Mais de 500 livros disponíveis para download gratuito


Publicado no Estadão

Mais de 500 obras literárias estão disponíveis para download gratuito no portal Universia Brasil. Entre elas, oito dos nove livros cobrados pelas bancas da Fuvest e da Unicamp no vestibular. O único que ainda não ganhou versão digital é Capitães da Areia, de Jorge Amado.

Ao todo foram publicados 521 arquivos em formato PDF, que pode ser lido em computadores, tablets e e-readers. As obras são dos mais variados estilos: há desde biografias de cineastas até textos científicos sobre comunicação, passando, claro, por grandes clássicos da literatura.

Segundo a gerente de conteúdo do portal, Alexsandra Müller, o objetivo da iniciativa é incentivar a leitura e democratizar o acesso ao conhecimento. “A gente acredita no poder de transformação da leitura, do ponto de vista pessoal e acadêmico”, afirma.

Alexsandra conta que os textos já estavam publicados na internet. O trabalho da equipe do site foi agregar o conteúdo em um único endereço eletrônico. “Esses livros foram pedidos por nossos leitores em enquetes e nas nossas redes sociais. Um internauta, por exemplo, queria muito ter acesso a textos de Gregório de Matos.”

Para se ter uma ideia, a demanda por obras gratuitas é tão grande que uma notícia sobre 120 obras acadêmicas disponíveis para download, publicada em setembro do ano passado, continua liderando o ranking das matérias mais lidas do portal.

Vestibular

Estão disponíveis para download os seguintes livros da Fuvest e da Unicamp:

- A Cidade e as Serras (Eça de Queirós)
- O Cortiço (Aluísio Azevedo)
- Memórias de um Sargento de Milícias (Manuel Antônio de Almeida)
- Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis)
- Sentimento do Mundo (Carlos Drummond de Andrade)
- Til (José de Alencar)
- Viagens na Minha Terra (Almeida Garrett)
- Vidas Secas (Graciliano Ramos)

As obras de Aluísio de Azevedo são destaque entre o material. São 17 livros do romancista, contista, cronista, diplomata, caricaturista e jornalista nascido no Maranhão. Além disso, pode ser feito o download de 27 livros de José de Alencar, 18 de Eça de Queirós, 13 de Fernando Pessoa, 8 de Lima Barreto.

Quem quiser treinar o inglês poderá baixar 15 livros do poeta inglês William Shakespeare.

O portal também oferece uma série com 20 livros sobre cinema nacional, como biografias de cineastas e roteiros de filmes de destaque.

Ainda há outras 30 obras sobre comunicação, entre as quais Jornalismo e Convergência: Ensino e Práticas Profissionais, de Cláudia Quadros, Kati Caetano e Álvaro Laranjeira, e Comunicação e Política, de João Carlos Correia.

Para acessar a lista completa e baixar os arquivos, basta acessar o site da  Universia  e salvar o material.

Jornalista americano publica livro com a última entrevista do casal John Lennon e Yoko Ono


Publicado por Cultura News

Após mais de 32 anos da morte de John Lennon, fundador da icônica banda The Beatles, o jornalista americano David Sheff lança o livro A última entrevista do casal John Lennon & Yoko Ono. Na obra, o jornalista publica uma série de entrevistas realizadas com o casal pouco antes de Lennon ser assassinado, em 8 de dezembro de 1940, aos 40 anos de idade.

As entrevistas mostram um músico muito animado e feliz com os rumos que sua carreira solo estava tomando. Lennon e Yoko também contam detalhes de seus projetos pessoais.

Para que David Sheff conseguisse o aval para entrevistá-los, Yoko chegou a fazer um mapa astral do jornalista para ver se ele estava “apto” a ir até a residência do casal, em Nova York.

Além das entrevistas, o jornalista também descreve com riqueza de detalhes o apartamento onde o casal morava. A vista para o Central Park, obras de Andy Warhol pelas paredes, além de um sarcófago na sala de estar são apenas alguns dos detalhes revelados.

Sheff diz que as entrevistas com o casal marcaram sua vida. “As conversas que tivemos me agradavam e inspiravam; até hoje reflito sobre elas. Embora eu tivesse apenas 24 anos quando conduzi a entrevista, as lições da experiência com John e Yoko jamais se perderam de mim”, declara.

Além de Lennon e Yoko, o jornalista também já entrevistou Steve Jobs, Tom Hanks, Jack Nicholson e Carl Sagan. Sheff já trabalhou em grandes revistas e jornais, como Playboy, The New York Times, Rolling Stone, Wired, The Los Angeles Times, entre outros.

Transformando sabedoria em gibi, duas vezes por semana


André Forastiere, no R7

Gavin Aung Tham é fã de citações. Dedica sua vida a transformá-las em quadrinhos. Dá forma, vida e humor a frases marcantes de famosos e nem tantos. Baseado nos Estados Unidos, muitos nomes são só conhecidos por lá. O que teve mais acesso até hoje é do astrônomo e escritor Carl Sagan, de quem sou fã de carteirinha – leia Os Dragões do Éden e O Mundo Assombrado Por Demônios, e assista a minissérie Cosmos, e você também será.

Tham aceita sugestões. Você pode mandar uma boa frase para lá, e ele pode decidir transformá-la em tira ou quadrinho. Não desenha particularmente bem, mas tem imaginação para bolar maneiras de surpreender. Por exemplo, transformou uma reza de um livro de ficção-científica em um minidrama sobre violência doméstica. É a Oração contra o Medo, de Frank Herbert, de Duna.

O ilustrador australiano batizou seu site de Zen Pencils, lápis zen. Tem uma certa inclinação filosófica. Essa é uma boa, do Dalai Lama. O jornalista pergunta para o líder budista o que mais o surpreende na humanidade. Ele responde:

- O homem. Porque ele sacrifica sua saúde para ganhar dinheiro. E depois sacrifica o dinheiro para recuperar sua saúde. Fica tão ansioso com o futuro que não aproveita o presente. O resultado é que não vive nem no presente, nem no futuro. Vive como se nunca fosse morrer. E morre nunca tendo vivido.

Palavras de sabedoria. Ficam ainda melhor desenhadas, acompanhadas de um textinho de Tham comentando, e ainda com um link para um vídeo em que Sagan e o Dalai Lama conversam sobre ciência e religião. Veja aqui.

E você ainda pode comprar um pôsterzinho de cada citação. É assim que Gavin ganha algum dinheiro com seu trabalho. Imagine que tenha outras fontes de renda, e imagino que gostaria de viver só disso. Se bem que, como ele se autoretratou, se você descobrir um trabalho que adora fazer, nunca mais vai ter que trabalhar na vida.

Visite. É atualizado toda terça e quinta. E se quiser conhecer Gavin melhor, tem uma entrevista dele aqui. Eu sei que voltarei.

Queimem seus livros de autoajuda

      


Publicado por O Blog do Stephen Kanitz

“Onde fica a seção de autoajuda?”, pergunta um cliente ao dono de uma livraria.

“Lamento não poder lhe informar. Por princípio, essa é a única seção da nossa livraria que o cliente precisa descobrir sozinho.”

Ao longo de 10.000 anos criamos vários mecanismos e instituições cujo objetivo era ajudar os jovens a descobrir os caminhos e as soluções para os problemas da vida.

O primeiro foi a família estendida, onde os avós eram o poço de sabedoria das famílias, a voz do bom senso, da ponderação.

Tínhamos também os tios, que não eram tão envolvidos quanto os pais, e podiam dar bons conselhos, nem sempre de acordo com os irmãos.

Tinha o irmão mais velho, que nos defendia e nos abria alguns caminhos.

O segundo mecanismo foi o poder do grupo, do conselho dos anciões, o shamam, as curandeiras, os mitos, os folclores, as tradições que continham verdades escondidas, conselhos milenares que naquela época ajudavam e muito.

Em terceiro foram as religiões escritas, as bíblias, os salmos com centenas de conselhos úteis, que embora pudessem ser considerados textos de autoajuda, eram escritos por pessoas com credibilidade, talvez até por Deus, e eram interpretados e explicados por sábios, sacerdotes preparados para esta função.

Em quarto, temos as Universidades, onde jovens iam à procura de uma profissão e muitas respostas para as grandes questões da vida, onde encontravam “mestres”, “tutores” e discutiam em colóquios e acalorados debates entre os alunos.

E uma das grandes verdades, que todos aprendiam, era que o objetivo da vida era a cooperação humana, a ajuda recíproca, a solidariedade, o convívio entre as pessoas, o carinho, o abraço, a ajuda fraterna.

O egoísmo, o engrandecimento, o sucesso pessoal eram vistos como o lado menor das pessoas, o lado mesquinho, que só traria a infelicidade.

O princípio do livro de autoajuda significa não precisar de ninguém para ter sucesso na vida.

Basta pagar os R$ 30,00 reais e ler o livro.

Não precisa de um mestre, um guia, um guru, um pai, nem avô.

Somente o livro de autoajuda.

Se todos os livreiros fossem iguais ao da piada acima, talvez a ficha caísse para os milhares de compradores de livros de autoajuda.

Que substituiu a religião, a universidade, os pais, os tios, os irmãos mais velhos, a sabedoria dos mais velhos.

Que virou uma religião, uma heresia, e por isto seus livros na tradição medieval, precisariam ser queimados.

Mas não por padres, avós, mestres, mas sim pelos próprios compradores.

Antigamente, o livro de autoajuda mais vendido era o “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, de Dale Carnegie, meno male, pelo menos induzia você sair do seu casulo e conhecer pessoas.

Os mais vendidos de autoajuda hoje são uma tragédia.

Na próxima vez que você comprar um livro de autoajuda, procure os livros sozinho.

Você estará assim aprendendo desde o início a conviver com a solidão.

dico do Chicco Sal

Fotografia: Leitura – paixão de uma vida


Publicado por O Globo

A obra:

André Kertész era um leitor ávido. A leitura era, e não é modo de falar, o que apaziguava sua alma e seu espírito. Apaixonado por livros, em todas as suas viagens ao se deparar com um leitor ou com alguém que como ele amava os livros, não perdia a oportunidade e tirava uma foto. A série Leitura é brilhante como fotografia e muito interessante como registro de uma época e de um modo de vida que, triste constatação, parece estar desaparecendo…

Como expliquei no início da série Distorções, as fotos serão inseridas entre um ou outro parágrafo, ligadas ao tema – Leitura – e não ao texto propriamente dito. A primeira, acima, é justamente uma apresentação da série e está sem data.

O artista:

Entre os amigos que fez em Paris estavam membros do movimento dadaísta. Um deles apelidou André Kertész de “Irmão Que Vê”, numa alusão a um monastério medieval onde todos os monges eram cegos, exceto um. Sua maior colaboração profissional foi com Lucien Vogel, o editor francês que publicava as fotos de Kertész sem muitos textos explicativos. Juntos eles publicaram fotos de Chagall, de Mondrian, de Colette e de Sergei Einstein.


No Asilo de Beaune, Borgonha, Fr – 1929

Em Paris ele conheceu o sucesso artístico e comercial e há monografias relatando que ele foi o primeiro fotógrafo a fazer uma exposição individual (1927). Além de ensinar Brassaï a fotografar, ele foi orientador dele e de Cartier-Bresson, que sempre lhe foi muito grato.

Sem dizer nada à sua família e, na realidade, nem para a maioria de seus amigos, Kertész casou-se com uma fotógrafa francesa especializada em retratos, Rosza Klein (que usava o nome de Rogi André), no final da década de 20. O casamento durou muito pouco e ele nunca mais tocou nesse assunto, para não incomodar sua segunda mulher, a húngara Elizabeth.


Na escola, no intervalo de uma peça – Nova York, 1938

Em 1930 ele resolveu voltar para a Hungria a fim de visitar a família e lá reencontrou sua primeira namorada, Erzsebet.

Ele não ficou muito tempo em Budapest; voltou para Paris e em 1931 Erzsebet o seguiu, apesar da objeção de sua família. Os dois nunca mais se separaram. Casaram- se em 17 de junho de 1933 e ela passou a se chamar Elizabeth Kertész.


Le Havre, 1948

Por essa época, o Partido Nazista crescia e se tornava cada vez mais poderoso. Isso levou a indústria jornalística a publicar muitas reportagens sobre política, mas Kertész, por ser neutro e apolítico, passou a receber cada vez menos encomendas.

Foi quando Elizabeth e ele resolveram se mudar para Nova York. Em 1936, em meio às ameaças de uma II Guerra Mundial, o casal Kertész embarcou no SS Washington em direção a Manhattan.

Acervo Espólio André Kertész

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