Publicado por O Blog do Stephen Kanitz
“Onde fica a seção de autoajuda?”, pergunta
um cliente ao dono de uma livraria.
“Lamento não poder lhe informar. Por
princípio, essa é a única seção da nossa livraria que o cliente precisa
descobrir sozinho.”
Ao longo de 10.000 anos criamos vários
mecanismos e instituições cujo objetivo era ajudar os jovens a descobrir os
caminhos e as soluções para os problemas da vida.
O primeiro foi a família estendida, onde os
avós eram o poço de sabedoria das famílias, a voz do bom senso, da ponderação.
Tínhamos também os tios, que não eram tão
envolvidos quanto os pais, e podiam dar bons conselhos, nem sempre de acordo
com os irmãos.
Tinha o irmão mais velho, que nos defendia e
nos abria alguns caminhos.
O segundo mecanismo foi o poder do grupo, do
conselho dos anciões, o shamam, as curandeiras, os mitos, os folclores, as
tradições que continham verdades escondidas, conselhos milenares que naquela
época ajudavam e muito.
Em terceiro foram as religiões escritas, as
bíblias, os salmos com centenas de conselhos úteis, que embora pudessem ser
considerados textos de autoajuda, eram escritos por pessoas com credibilidade,
talvez até por Deus, e eram interpretados e explicados por sábios, sacerdotes
preparados para esta função.
Em quarto, temos as Universidades, onde
jovens iam à procura de uma profissão e muitas respostas para as grandes
questões da vida, onde encontravam “mestres”, “tutores” e discutiam em
colóquios e acalorados debates entre os alunos.
E uma das grandes verdades, que todos
aprendiam, era que o objetivo da vida era a cooperação humana, a ajuda
recíproca, a solidariedade, o convívio entre as pessoas, o carinho, o abraço, a
ajuda fraterna.
O egoísmo, o engrandecimento, o sucesso
pessoal eram vistos como o lado menor das pessoas, o lado mesquinho, que só
traria a infelicidade.
O princípio do livro de autoajuda significa
não precisar de ninguém para ter sucesso na vida.
Basta pagar os R$ 30,00 reais e ler o livro.
Não precisa de um mestre, um guia, um guru,
um pai, nem avô.
Somente o livro de autoajuda.
Se todos os livreiros fossem iguais ao da
piada acima, talvez a ficha caísse para os milhares de compradores de livros de
autoajuda.
Que substituiu a religião, a universidade,
os pais, os tios, os irmãos mais velhos, a sabedoria dos mais velhos.
Que virou uma religião, uma heresia, e por
isto seus livros na tradição medieval, precisariam ser queimados.
Mas não por padres, avós, mestres, mas sim
pelos próprios compradores.
Antigamente, o livro de autoajuda mais
vendido era o “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, de Dale Carnegie, meno
male, pelo menos induzia você sair do seu casulo e conhecer pessoas.
Os mais vendidos de autoajuda hoje são
uma tragédia.
Na próxima vez que você comprar um livro de
autoajuda, procure os livros sozinho.
Você estará assim aprendendo desde o início
a conviver com a solidão.
dico do Chicco Sal
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