Xico Sá, na Folha de
S.Paulo
Agora vamos tratar do lado família da Flip, a festa literária de
Paraty. É preocupação dos pais, leia-se mães, tornar seus filhos bons leitores.
Daí a importância de trazê-los para pegar, nem que seja por osmose, o
gosto pelos livros.
Este cronista gutenberguiano, sempre preocupado com o futuro dos
jornais e das edições impressas no geral, preparou um pequeno guia de iniciação
dos jovens na leitura.
Atenção senhores pais:
Escola de machos – A simples iniciação via Hemingway assegura uma
cota de testosterona até a madureza. Faz tão bem para o crescimento quanto
Calcigenol ou óleo de fígado de bacalhau.
Vocês, pais e mestres, se orgulharão quando o pirralho sair por ai
fisgando trutas, caçando pacas, tatus… mirando em rolas, codornas e juritis.
A importância de ler Wilde - A simples iniciação pelo inventor de
Dorian Gray garante que o seu filho dê em um homem sensível. Sim, há o risco do
metrossexualismo, mas vale a pena. O volume “O Fantasma de Canterville”, para
meninos e meninas, é o indicado à guisa de debut.
Lição de anatomia – Moby Dick? Vai fazer muito bem. Seu filho
crescerá generoso com as mulheres mais cheinhas, as botterinhas, e não cairá
nessa fábula das passarelas e suas mulheres ossudas e magérrimas.
Piedade de nós – “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, jamais. Muito
menos as choramingas populistas de Charles Dickens. Seus filhos crescerão com
peninha da humanidade, capazes de fundar uma ONG a cada bairro, achando que a
caridade seja remate de todos os males.
Campos & espaços – Mal sinal quando o pimpolho começa a trocar
o legos pela poesia concreta, briquedinhos que se combinam. Não há mamadeira
bilaquiana que dê jeito.
Vanguardeiros e malditos – São uns bossais estraga-homens.
Mantenha-os fora do alcance das crianças. Eles estão para a literatura assim
como os pipoqueiros que passam drogas _esses fabulosos sedutores!_ estão para
as portas dos colégios.
Catecismo e primeira comunhão – Se Deus não existe, tudo é
permitido. Quer segurar o capetinha nas rédeas morais possíveis, aí incluídas
as algemas forjadas no aço da culpa? Karamazov nele, como quem dá remédio
forçado.
O medo diante da loba - Quer estragar sua filha querida e a vida
dos futuros genros? Libere Clarice Lispector logo na pré-adolescência. Aí
teremos moças misteriosas, labirínticas, metalingüísticas, uns diabos arredias
e estranhas diante do amor. Capazes de tudo: TPMs elípticas, menstruações de
incomunicabilidades sem fim, coitados desses futuros maridos que terão que
aguentá-las.
Dica do Chicco Sal
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