Basta uma rápida olhada nas listas de livros
mais vendidos para notar dois cenários bem distintos no mercado editorial
brasileiro.
A categoria de não ficção é dominada por
livros nacionais, quase sempre ocupando os primeiros lugares.
Já entre os títulos de ficção, encontrar um
autor brasileiro é como achar uma agulha em um palheiro.
O site “PublishNews”, que monitora as vendas
de 25% a 35% das livrarias do país, publicou um balanço de 2012 que ilustra bem
a questão.
Entre os 20 livros de não ficção de maior
sucesso no ano, há 14 títulos brasileiros (veja ao lado). Biografias do bispo Edir
Macedo e do empresário Eike Batista e o manual de etiqueta da colunista da
Folha Danuza Leão são os maiores sucessos da categoria.
Na seara da ficção, há apenas dois autores
brasileiros entre os 20: Jô Soares e Luis Fernando Verissimo, ambos no fim da
lista.
O livro de Jô, “As Esganadas”, ocupa o 17º
lugar no grupo liderado pela trilogia britânica “Cinquenta Tons de Cinza”. É o
melhor desempenho de uma ficção brasileira em 2012, embora tenha sido lançado
em outubro de 2011.
A aferição feita pelo “PublishNews” é
considerada hoje pelas editoras a mais confiável do país. Ainda assim, não há
números exatos de exemplares vendidos no Brasil. As listas de livros mais
vendidos dependem de dados de editoras e livrarias, que nem sempre divulgam
essas informações.
Escritores, autores e críticos ouvidos pela
Folha apontaram tanto questões de mercado quanto artísticas para tentar, ao
menos em parte, explicar o fenômeno.
LITERATURA POPULAR
“O mercado cresceu, mas ficou mais
concentrado. Poucos títulos vendem muito. Neste cenário, fica difícil competir
com um blockbuster internacional”, diz Otávio Marques da Costa, publisher da
Companhia das Letras.
“Enquanto isso, na não ficção”, completa,
“os títulos internacionais têm menos força. O público prefere assuntos que lhe
são próximos, sobre nossa história. É mais fácil entrar na lista.”
Para ele, falta ao Brasil a tradição de uma
literatura comercial de qualidade, que faça frente aos sucessos estrangeiros.
Cita como exemplo vitorioso o caso de “As Esganadas”, editado pela Companhia.
Sergio Machado, presidente do grupo
editorial Record, aponta o mesmo problema.
“Há pouca gente aqui se arriscando a fazer
uma ficção mais popular. Quem poderia fazer isso bem prefere ir para a TV,
escrever a novela das oito.”
Os dois maiores sucessos brasileiros do
grupo em 2012, segundo o levantamento do PublishNews, são de não ficção: “A
Queda”, de Diogo Mainardi, e “Encantadores de Vidas”, de Eduardo Moreira.
O último, conta Machado, recebeu uma verba
de marketing “agressiva”: mais de R$ 200 mil. Um livro de ficção nacional
considerado “normal” recebe cerca de R$ 2.000 de marketing.”Esse investimento é
mais raro mesmo na ficção. Não adianta fazer publicidade de um produto que não
vai despertar o interesse do público”, afirma.
Enquanto Companhia e Record dizem dividir
seus catálogos brasileiros de forma equiparada entre ficção e não ficção, a
Leya tem privilegiado este último.
“Simplesmente porque são poucos os autores
de ficção que merecem publicação”, justifica o diretor-geral da editora, Pascoal
Soto.
Ele esteve envolvido em alguns dos
principais fenômenos da não ficção dos últimos anos, como “1808″ (quando Soto
ainda atuava na Planeta) e a série “Guia Politicamente Incorreto” (já na Leya).
“Na não ficção, encontramos autores
dispostos a atender à demanda do grande público. Eles escrevem de forma
acessível. Já os romancistas escrevem para os amigos, para ganhar o Nobel de
Literatura”, alfineta Soto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário