Biografia escrita por Marcelo Forlani no Omelete
Bloemfontein, capital do Estado Livre de
Orange, na África do Sul, mudou a história de três diferentes mundos no
dia 3 de janeiro de 1892. Nasceu ali John Ronald Reuel Tolkien, o primeiro
filho do casal de ingleses Mabel e Suffield e Arthur Tolkien. Três anos depois
do seu nascimento, Ronald, seu irmão Hilary (dois anos mais novo) e a mãe se
mudavam para a Inglaterra. Aquela era a primeira grande mudança na vida dos
dois meninos. Seu pai adoeceu e não conseguiu voltar para a sua terra natal.
Mabel morou um tempo na casa dos pais, até alugar um chalé na zona rural de
Birmingham. Ficar próximo aos avós e no meio do mato ajudou o menino a não
sentir tanta falta da figura paterna e, principalmente, lhe ensinou a
importância da natureza, sempre tão presente e viva na sua obra.
Passados quatro anos, os Tolkien saem de
Sarehole para uma casa em Moseley. Foi no renomado colégio King Edwards que
Ronald iniciou sua brilhante e longa história acadêmica. A mãe de Tolkien
morreu quando ele tinha 12 anos. O padre Francis ficou encarregado da educação
dos dois, que continuavam sua constante mudança de endereços. Quando dividia um
quarto com seu irmão, no segundo andar da pensão da Sra. Faulkner, conheceu Edith
Bratt, uma menina três anos mais velha que ele e futura mãe de seus filhos
(John, Michael, Christopher e Priscilla).
O romance dos dois é um parágrafo à parte
nesta história. Filha de mãe solteira, Edith também ficara órfã há pouco tempo
quando os dois se conheceram. Segundo consta na biografia de Tolkien, ela era
bastante bonita, baixa, esguia, de olhos cinzentos, um rosto firme e límpido e
cabelos curtos e escuros. Os dois foram proibidos de se relacionar pelo padre
Francis, que se preocupava com o rumo da vida do jovem rapaz. Ambos continuaram
se encontrando e trocando cartas até que ela foi transferida para outra cidade.
Obediente, Tolkien só voltou a procurá-la após completar 21 anos. Quando isso
aconteceu, ela estava noiva de outro, pois achava que aquele amor havia sido
esquecido. Tolkien conseguiu convencê-la de que eram feitos um para o outro e
se casaram em 22 de março de 1916.
Na época em que se dedicava exclusivamente aos estudos, Tolkien fundou com seus
amigos de colégio a T.C.B.S (Tea Club Barrovian Society). O clube do chá
(tea club) remete às tardes em que os garotos passavam na biblioteca tomando
chá enquanto estudavam para as provas finais. Depois, já de férias, eles
mudaram os encontros para a loja do Barrow, daí o nome Barrovian Society, ou
sociedade barroviana.
Com o estouro da Primeira Guerra Mundial,
Tolkien teve que se alistar para defender o exército inglês. No front ele
pegou uma doença chamada febre das trincheiras, causada pela falta de higiene,
e voltou para a Inglaterra. As baixas para o T.C.B.S. foram mais profundas do
que isso. Alguns de seus membros fundadores acabaram sucumbindo. A amizade
entre eles, porém já havia transformado suas vidas. Toda esta cumplicidade pode
ser vista na obra de Tolkien, principalmente na lealdade da Comitiva do
Anel, em O Senhor dos Anéis.
Enquanto se recuperava da doença começou a
rabiscar O Livro dos Contos Perdidos (The Book of Lost Tales), que
mais tarde virou
O Silmarillion (The Silmarillion). É neste momento que Tolkien começa a desenvolver o seu universo de orcs e elfos baseados nas lendas finlandesas que ele tanto estudou. Com o fim da Guerra, Tolkien volta a Oxford e retoma seus estudos e carreira acadêmica.
O Silmarillion (The Silmarillion). É neste momento que Tolkien começa a desenvolver o seu universo de orcs e elfos baseados nas lendas finlandesas que ele tanto estudou. Com o fim da Guerra, Tolkien volta a Oxford e retoma seus estudos e carreira acadêmica.
Com a estabilidade, o professor passou a
dedicar atenção especial à família. Enquanto corrigia um bolo de provas, uma
folha em branco foi o impulso que precisava para começar a colocar no papel as
histórias que contava para os filhos. Tudo começava com numa toca no chão
vivia um hobbit e as histórias narravam as aventuras de Bilbo
Bolseiro, um ser menor que um anão, de pés grandes e peludos, pertencente a
esta raça chamada hobbit.
A história caiu nas mãos do editor Stanley
Unwin que, depois de ver a velocidade com que seu filho de 10 anos lia a
obra, decidiu publicá-la. O Hobbit (The Hobbit – 1937) só tinha
um problema. As 310 páginas de sua versão original foram consideradas muito
poucas pelos leitores, que a esta altura já podiam ser chamados de fãs. Uma
continuação foi encomendada ao escritor, mas com toda a sua responsabilidade
(com as aulas) e detalhismo, Tolkien levou nada menos do que 12 anos para
terminar O Senhor dos Anéis (The Lord of the Rings), que foi lançado em
três volumes – os dois primeiros em 1954 e o terceiro no ano seguinte.
Em 1959, Tolkien, já famoso pela sua obra,
se aposenta como professor. As Aventuras de Tom Bombadil, Tree and
Leaf e Smith of Wootton Major foram publicados respectivamente
em 1962, 1964 e 1967. No ano de 1965, uma versão pirata de O Senhor dos
Anéis é lançada nos Estados Unidos. A obra influencia os hippies que
difundiam sua ideologia pacifista da Califórnia para o mundo. Sua esposa faleceu em 1971, aos 82 anos. Um ano depois,
ele volta para Oxford e recebe o título de Comandante da Ordem do Império
Britânico e de Doutor Honorário em Letras pela Universidade de Oxford.
Em 2 de setembro de 1973, em Bornemouth,
J.R.R. Tolkien faleceu, aos 81 anos. O mundo real em que vivemos, o mundo das
fantasias que imaginamos, e a Terra Média que, junto com ele, descobrimos.
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